sábado, 24 de janeiro de 2009

Saudades

Hoje, encontrei a caixa dos teus óculos de vista. Aquela que perdeste há muito tempo.
Abri-a. Fechei os olhos e senti as lágrimas da saudade.
Senti o teu perfume, Mãe. Senti o teu abraço, Mãe. Senti os mais doces dos beijos, os teus Mãe.
Afastei-me dos livros, das letras, dos conteúdos, do cansaço.
Mergulhei naquela caixinha que me trazia parte de ti, de vocês.
Ouvi a gargalhada do Papá, a voz e o respirar de quem fuma há muitos anos. Quantas vezes descansei todas as minhas inseguranças no seu peito, e ao ritmo de cada inspiração ganhei novas confianças.
Tenho saudades de andar de mão dada contigo, Mamã. Tal como fazia quando era pequenina e na verdade nunca deixei de o fazer. Tenho saudades de te ver adormecer com as festinhas do Papá no teu cabelo ruivo. Como se já soubesse de cor o caminho que vai do meio da tua testa até atrás da tua orelha.
Tenho saudades, Mamã. Tenho saudades, Papá. Tenho saudades de vocês, de nós. De mim e do mano com vocês. Tenho saudades de nós.
Abraço a caixinha cinzenta que tem em si a cor de ouro dos mais preciosos tesouros. Mais do que o perfume da Mamã, tem tudo o que trago comigo e que me dá forças para continuar, quando longe de vocês são tão poucas as que existem.
Foi muito difícil regressar a esta distância. Mais do que da primeira vez. Quando penso quantas mais vezes será assim difícil…
Sei que precisava de sair, de crescer, de ser e pensar por mim. Sei que nos precisamos de perder para encontrar….mas sei também que preciso de vocês mais do que tudo, e vocês de mim, de nós. De mim. Do mano.
Até já.
Não digo que vos amo dessa maneira que sentem, porque ainda amo mais.