terça-feira, 26 de julho de 2011

Céu

Gostava de ser capaz de ser feliz, sorrir, cantar e saltar com a leveza de alguém para quem a vida basta. Gostava de correr em jardins floridos, mergulhar em águas cristalinas, deitar-me em campos de trigo cor de ouro com a confiança de alguém para quem a certeza do presente basta.
Recordo o tempo em que o céu era o limite e abrir os abraços e levantar a cabeça era o mais próximo que podia estar daquele céu em que as nuvens contavam histórias ao mar. Recordo o tempo em que  rodava saias até cair. Recordo o tempo em que o cor-de-rosa e o azul eram fundo de desenhos e pinturas.Recordo o tempo em que coroas de flores ditavam reinados. 
Hoje o céu é só mais um dos horizontes e o tempo faz com que não abra os braços e levante a cabeça na ânsia de encontrar aquele céu. Hoje não faço com que as saias rodem até cair. Hoje o cor-de-rosa e o azul são apenas cores do arco-íris ou da velha paleta de cores guardada, mas aqui onde regresso invadem-me vontades perdidas de correr, saltar, rodar, sorrir, mergulhar, agarrar e não mais soltar este momento. Aqui onde tudo é meu, o que foi mistura-se com o que é e encontro-me em tudo quanto existe. Aqui vivo.
Abro janelas porque hoje é dia, corro para os teus braços e volto a fugir, sorriu, riu e sigo porque sei que conheces o meu regresso. Neste tempo suspenso de horas e dias ,tento ser e ter tudo quanto existe e fujo do céu de todos os limites em que se insere o tempo em que o hoje passa a ontem, passado, pretérito imperfeito do pretérito perfeito.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Caixa de Segredos

As janelas cederam à brisa fria que a noite trouxe, deixaram-se trespassar. O ar é agora mais leve, os sonhos voaram de tão concretizados, eu sorri à sua partida.
Dei corda à bailarina escondida na caixa dos segredos para que ganhasse vida a um qualquer momento. A música soou, eu olhei e vi. A música parou, eu fechei os olhos e dancei a música que já não tocava, dei corda ao meu próprio movimento e fiz da Lua o meu par. A corda terminou, lentamente perdi as forças e deixei-me cair. Esta noite farei da Lua minha confidente e da nossa partilha uma caixa de segredos sob a qual erguerei novos sonhos e compromissos, horizontes e limites.
O amanhã demora a chegar, cresce em mim a ânsia por um tempo que desconheço, mas quero conhecer, ser e viver. As noites são longas e frias, os dias são quentes e demorados. O passado é melodia de todas as danças, o futuro é a incerteza das piruetas e saltos de todas as danças que protagonizo nesta caixa de segredos aberta que é a vida. Os sonhos voaram de tão concretizados, eu chorei pelos que ficaram.

domingo, 3 de julho de 2011

Tempo


Ontem, hoje, amanhã. O tempo passa por mim, mas eu não passo pelo tempo.
Eu espero o tempo.
Mil sóis, mil luas e mil e uma respirações.
Sonho com um tempo que já foi e com o tempo que será. Existo no tempo que agora é.
Deitada neste chão, dedico a minha existência a olhar o céu, ora azul ora negro, ora dia ora noite.
Visto seda azul, espero que o vento sopre, balance o azul e eu possa vislumbrar aquele mar que nos separa e que nos une.
Fecho os olhos e deixo que todo o meu ser respeite a ondulação, que tudo vá e volte, quebre e volte a quebrar.  Abro os olhos e deixo que todo o meu ser respeite as directrizes de um destino que está decifrado ora nas nuvens ora nas estrelas.
Faço de cada nuvem uma memória e de cada estrela um desejo.
Quero ser e sou este mar que as memórias e os desejos banham.Quero ser e sou este mar que é existência quando o tempo não é, somente passa.
Quero ser e sou o mar de mil e um sóis e luas. Quero ser e sou eu.