sábado, 8 de fevereiro de 2014

Lá Longe

Na margem do rio, assalta-me esta sede de água por verter, esta sede molhada pela secura do que evapora.
Lá longe, perco o que nunca tive, mas vi antes de ser. Lá longe onde a vida é, antes de ter.
Mergulho as mãos na água cristalina, a sede é tanta. Aquela sede de água por verter, aquela sede da água que se liberta entre os espaços que separam os dedos fechados uns contra os outros. É aquela sede seca de água por resgatar.

Na margem do rio, vejo o tempo passar antes de chegar. Vem de lá longe, onde a vida se concretiza em paisagens primaveris e há um calor que arrepia.

Na margem do rio, sinto a sede do tempo que é e tem o que nunca foi e o que nunca teve, mas um dia será e terá.

Na margem do rio, procuro o reflexo de mim mesma.



segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Diário

Faz tempo, tanto tempo que eu espero o tempo. O nosso tempo.

O coração dispara perante o descompasso dos batimentos do ser a cada dia, a vida de um tempo que corre sem passar.
Vagueio entre as sombras de existências que criei e recriei sem nunca viver. O amanhã é hoje, mas eu espero o hoje no amanhã.
Dás-me a tua mão e eu respiro aliviada, porque já não sei caminhar sem saber a companhia do teu amor, sem saber-te meu e saber-me tua.

Levaste-me a passear, pintaste o céu e acalmaste o Mar. Aquele Mar, onde sempre banhamos o nosso amor e sem medo entregamos os nossos sonhos para que se concretizem no sal das correntes e tenham sempre um porto que os acolha. Nós esperamos.

Faz tempo, tanto tempo que o tempo é o tempo que há-de vir.











segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O Outono chegou. Eu parti.
Longe dos dias em que o Sol aquece os sonhos e ilumina os caminhos que percorro, longe dos dias em que fui sem querer saber do tempo que passa e se perde na sua própria infinitude.
O Outono reina. Eu choro.
Quando a chuva cair das nuvens carregadas de mudança por expelir, vou fechar os olhos e segredar aos ouvidos do vento.
O Outono fica. Eu volto.
Deixo-me cair sobre as folhas caídas e descanso o cansaço que carrego e que me carrega. Deixo-me cair sobre mim mesma.
O Outono é. Eu serei.
Grito, grito alto, bem alto. Lanço vozes ensurdecedoras ao universo até que a rouquidão me cale, até que o Outono finde.
Pego em cada uma das folhas caídas e desenho o mais belo dos quadros, das paisagens que não visitei, dos cenários em que não actuei, dos dias em que não vivi vivendo. O vento sopra e tudo desfaz.
Faço de cada uma das folhas caídas tapete voador e entrego-me aos devaneios do vento, do céu, das horas e do tempo. Liberto-me das amarras do que tem de ser e suspiro pelo que pode vir a ser.
Ousar sonhar e vibrar com outras formas de ser e estar, outras formas de viver. Ousar partir sem conhecer a chegada. Ousar ser sem pensar no que foi a cada instante, sem temer o que há-de ser. Ousar ser sem medo. Ousar somente ser e...aceitar a chegada de todos os Outonos que tiveram de chegar.

sábado, 30 de março de 2013

Tempestade do Encontro

O tempo passa, mas eu não acredito no que me conta.
Aqui, nesta margem do rio, tento vislumbrar a corrente que leva o que passa. Vai.
O tempo corre, mas eu não o vivo.
Aqui, nesta margem do rio, vejo-o.

Hoje, o tempo é pesado. Dói.
Amanhã quero ver, viver, sentir.
Ontem fui eu sem saber o que sou.

Aqui, nesta magem do rio, antecipo a tempestade.
Adivinho o negrume do céu que vai chegar.

Quando a chuva cair, que caía.
Quando chegar, que chegue.

Se o meu tempo é este, que seja.
Se eu tiver de me perder para me encontrar, que me perca.




sábado, 9 de março de 2013

Perder

 Tudo é embotamento.
 Tudo é emoção por reconhecer.
 Estou debotada do que é e do que sou.
 Estou perdida nas saídas de mim mesma.
 Nada é presença.
 Nada é esperança.


Se eu quiser, o querer sem querer.
Amanhã será.





 

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Dias

Há dias que nos surgem como um zumbido, ora longíquo, ora próximo. Como se tudo fosse dispar do que o dia deveria contar.
As nuvens eram escuras, carregadas, pesadas. Choveram.
O Sol era claro,simples, leve. Apagou.
O vento era fraco, linear, fugaz.Voou.
Há dias que são meros dias, que somente são.
Sentei-me à janela a adivinhar a Lua. Imaginei uma esfera acinzentada, com pequenas concavidades identificáveis a olho nu, ao perto mas não ao longe. Sentei-me e esperei.
A noite caiu num longo pano que se fez escuro, para mim era claro. Com aguarelas pintei as estrelas e a Lua, as estrelas a cinzento e a Lua a amarelo. Sentei-me, esperei e sonhei a noite.
Há dias que nos surgem como gravuras por colorir, espaços por desenhar, vida por viver.
Hoje, a Lua está amarela e os meus olhos cintilantes.
Sentada, espero a Sonhar(-me).
O dia foi.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Tu Sol




















Fecho os olhos e o Sol chega. Aquece a pele, clareia a existência. Trato-o por Tu e peço-lhe o embalo das tardes quentes de Verão.
Fecho os olhos e quero Ser sem medo do que há-de vir, sem chorar o que foi.
Fechos os olhos sem adormecer o pensar e o sentir. Revivo o viver presente, torno-o passado do presente.
Fecho os olhos e tudo em mim é ausência.
Fecho os olhos e vejo.





sábado, 22 de setembro de 2012

Peças

Do barulho sobrou o silêncio, da rosa as pétalas, do tempo a saudade. 
Do que é o que foi. 
O hoje fica para amanhã.