sábado, 28 de março de 2009

Tempo em tempestade

Pensamentos imensamente vazios de tão cheios. Levantar os olhos, fechar os livros, um a um, olhar mais alto, ver mais e melhor.
Procurar um outro horizonte.
Definir outros conceitos, planificar outras experiências. Sorrir só por sorrir e soltar gargalhadas até que o seu eco se perca de tão alto que as darei.
Abrir a mão deixar cair a flor, ou pétala a pétala. Abrir a mão e deixar que se perca tudo o que se perde. Fechar a mão à queda da última pétala. Implacável como a vida.
Seguir em frente, passo acelerado que atrás vem gente e tempo e eu só te quero a ti e a vocês e tempo, tempo não o tenho.
Abrir todas as janelas da casa e deixar as portas baterem, estremecer com o mundo exterior para que o interior desperte e volte a ser real. Que de tanta fragilidade congelou.
Fechar os olhos aos raios de sol que me batem de frente, abrir os olhos à noite que cai.
Perdi-me e encontrei-me, nesses abraços que de tão abertos dão-me espaço para ficar ou ir se quiser seguir a força do vento e virar costas ao que foi.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Erros frios

É noite e o ar é frio. O arrepio percorre toda a pele desde a base do pescoço até as plantas dos pés, primeiro atrás depois a frente do corpo. É noite e a vista da varanda não é a mesma que de dia.
Na cama, adormecido num sono profundo, estava Ele.
A camisa da noite de seda apurava todos os seus sentidos, naquela noite, em que precisava precisamente que todos os seus sentidos fossem atraídos de tal forma que de cansada também podesse adormecer.
Na cama, adormecido num sonho profundo, estava Ele. Ele. Ele.
Deixara de o conseguir definir desde a última zanga. Deixara de o conseguir definir desde a última quebra de confiança. Ele…
O ar soprou num tom ainda mais frio e voltou a provocar-lhe um arrepio, ao mesmo tempo que do rosto se separavam lágrimas salgadas que lhe molhavam o rosto, e continuavam o seu percurso seguindo a linha do seu pescoço fino, até atingir a seda da sua camisa onde se dispersaram como se tivessem encontrado o que procuravam há muito.
Também ela pensara ter encontrado o que há muito procurava, com o qual até sonhava ainda que não de forma permanente. Mas , desde aquela discussão tudo estava em certezas de pena, incertezas de ferro.
A Lua e o Sol estavam alinhados. Metade por metade. O novo dia estava por nascer, e sem se aperceber tinha estado, todo aquele tempo, estática na varanda da sala, para que Ele não acordasse.
Nesse instante sorriu. E sentiu vontade de voltar a encontrar-se no corpo Dele.
Voltou para a cama, do sono profundo Ele despertou para a realidade do sonho que estava a seu lado, e mesmo sem abrir os olhos como conhecendo de cor todos os contornos do corpo Dela levantou o braço para que Ela se deitasse e voltou a fechá-lo mal a sentiu encostar-se ao seu corpo.
Foi naquele abraço que o ferro transformou todas as incertezas em penas que voaram de tanta leveza. Foi naquele abraço que recuperou forças e percebeu que todos nós erramos, mas esses erros não nos fazem deixar de sermos quem somos. São apenas erros, que quem nos ama tem que saber ou aprender a perdoar.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Dança da Vida

A cada pirueta no ar aprendo a olhar em frente. A cada queda volto a ter medo de tirar os olhos do chão.
A balança mantém-se equilibrada.
Os dias sucedem-se, eu sigo a dança. Entre espelhos e reflexos, entre sombras e sobreposições deixo que o meu corpo fale, cante e dance ao som do movimento da (minha) vida.
Entre o cansaço que me afasta do meu ser, entre o cansaço que me faz sentir fora de mim mesma, fui dominada pela melancolia no olhar e no estar desta cidade. Como se uma rotina imensa domina-se todos os meus pensamentos, gestos e passos. Ainda assim, sigo entre a multidão, ansiando chegar ao outro lado da ponte. Do outro lado, onde vou finalmente respirar ar puro, e encher o meu espírito de ti.
Enquanto esperas, não deixes de me estender a mão, nem de me oferecer esse teu sorriso rasgado que ilumina este caminho que sigo.