domingo, 25 de setembro de 2011

Esta Noite

Sento-me junto à janela, paciente, espero pela chegada da noite. A Lua é melhor conselheira do que o Sol, aconchega o soluço. As luzes estão apagadas e a brisa arrepia a pele. Aperto a chávena de chá entre as mãos, para não cair no vazio. Conto bocados de existência em espirais de recordações e constelações.
Fecho os olhos. Durante um espaço de tempo questiono a existência e a realidade.Não sei se vivi, se sonhei. Sei que senti, uma vez mais, um tempo que é sobretudo espaço, um espaço em que sigo e, por vezes, paro, espero e volto a seguir. A minha voz rompe o silêncio e conta histórias de amor, reais e fantasiadas enquanto a noite passa.


A distância não é ausência, é fria. A distância não é ausência, é estar sem.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Silêncio mudo

Entre hoje e amanhã sento-me ao piano e toco pautas que nunca vi nem aprendi. Faço soar as teclas para que possa sentir saudade do silêncio e sorrir perante a sua majestosa chegada. É este silêncio que me adormece e desperta, é este silêncio que traz a paz entre os braços, me devolve a mim própria e conta histórias sobre as minhas histórias.
Conquistei este espaço onde cresci. Fui mais além e levei partículas de existência, desta existência e sou parte do que fui e foi. Entre hoje e amanhã entrego-me a este silêncio que condiz com a noite de lua cheia e movimento-me ao ritmo das notas da pauta deste melódico silêncio, enquanto os meus dedos baloiçam sobre as teclas do piano. A luz que trazes em ti denuncia a tua chegada, sorris e convidas-me para uma dança. Estendo-te a mão e entrego-te o meu corpo.Danço contigo enquanto Tu embalas a minha alma. 
Entre hoje e amanhã conhece-me e reconhece-me mais um pouco na música deste silêncio, ao som do piano mudo.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Céu

Gostava de ser capaz de ser feliz, sorrir, cantar e saltar com a leveza de alguém para quem a vida basta. Gostava de correr em jardins floridos, mergulhar em águas cristalinas, deitar-me em campos de trigo cor de ouro com a confiança de alguém para quem a certeza do presente basta.
Recordo o tempo em que o céu era o limite e abrir os abraços e levantar a cabeça era o mais próximo que podia estar daquele céu em que as nuvens contavam histórias ao mar. Recordo o tempo em que  rodava saias até cair. Recordo o tempo em que o cor-de-rosa e o azul eram fundo de desenhos e pinturas.Recordo o tempo em que coroas de flores ditavam reinados. 
Hoje o céu é só mais um dos horizontes e o tempo faz com que não abra os braços e levante a cabeça na ânsia de encontrar aquele céu. Hoje não faço com que as saias rodem até cair. Hoje o cor-de-rosa e o azul são apenas cores do arco-íris ou da velha paleta de cores guardada, mas aqui onde regresso invadem-me vontades perdidas de correr, saltar, rodar, sorrir, mergulhar, agarrar e não mais soltar este momento. Aqui onde tudo é meu, o que foi mistura-se com o que é e encontro-me em tudo quanto existe. Aqui vivo.
Abro janelas porque hoje é dia, corro para os teus braços e volto a fugir, sorriu, riu e sigo porque sei que conheces o meu regresso. Neste tempo suspenso de horas e dias ,tento ser e ter tudo quanto existe e fujo do céu de todos os limites em que se insere o tempo em que o hoje passa a ontem, passado, pretérito imperfeito do pretérito perfeito.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Caixa de Segredos

As janelas cederam à brisa fria que a noite trouxe, deixaram-se trespassar. O ar é agora mais leve, os sonhos voaram de tão concretizados, eu sorri à sua partida.
Dei corda à bailarina escondida na caixa dos segredos para que ganhasse vida a um qualquer momento. A música soou, eu olhei e vi. A música parou, eu fechei os olhos e dancei a música que já não tocava, dei corda ao meu próprio movimento e fiz da Lua o meu par. A corda terminou, lentamente perdi as forças e deixei-me cair. Esta noite farei da Lua minha confidente e da nossa partilha uma caixa de segredos sob a qual erguerei novos sonhos e compromissos, horizontes e limites.
O amanhã demora a chegar, cresce em mim a ânsia por um tempo que desconheço, mas quero conhecer, ser e viver. As noites são longas e frias, os dias são quentes e demorados. O passado é melodia de todas as danças, o futuro é a incerteza das piruetas e saltos de todas as danças que protagonizo nesta caixa de segredos aberta que é a vida. Os sonhos voaram de tão concretizados, eu chorei pelos que ficaram.

domingo, 3 de julho de 2011

Tempo


Ontem, hoje, amanhã. O tempo passa por mim, mas eu não passo pelo tempo.
Eu espero o tempo.
Mil sóis, mil luas e mil e uma respirações.
Sonho com um tempo que já foi e com o tempo que será. Existo no tempo que agora é.
Deitada neste chão, dedico a minha existência a olhar o céu, ora azul ora negro, ora dia ora noite.
Visto seda azul, espero que o vento sopre, balance o azul e eu possa vislumbrar aquele mar que nos separa e que nos une.
Fecho os olhos e deixo que todo o meu ser respeite a ondulação, que tudo vá e volte, quebre e volte a quebrar.  Abro os olhos e deixo que todo o meu ser respeite as directrizes de um destino que está decifrado ora nas nuvens ora nas estrelas.
Faço de cada nuvem uma memória e de cada estrela um desejo.
Quero ser e sou este mar que as memórias e os desejos banham.Quero ser e sou este mar que é existência quando o tempo não é, somente passa.
Quero ser e sou o mar de mil e um sóis e luas. Quero ser e sou eu.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Vento

Os dias chegam e findam e nasce em mim um medo irreversívelmente novo que tudo finde para não mais voltar a ser. O vento sopra e apressa o tempo, as folhas caídas rodopiam e elevam-se de novo, num primeiro olhar diria que renascidas, mas não. Já nada lhes devolverá a vida, não mais serão.
Sei que tudo é ténue e subtilmente incerto, demasiado incerto, não o questiono agora, não o questiono hoje, sei-o apenas, sem no entanto ter-me acostumado a tal vulnerabilidade.
Apetece-me correr para os vossos braços e gritar que vos amo, rir até não aguentar mais, chorar de felicidade por vos ter e vos pertencer, viver esse amor que me têm e oferecer-vos este amor que tenho.
Tenho um nó na garganta, um aperto no peito e as lágrimas caem porque têm que cair. Estou longe porque tenho que estar, mas o tempo que nos roubam nunca vamos vivê-lo, nunca vamos recuperá-lo porque o tempo não volta, o tempo é. O vazio deste tempo que é nosso sem ser consome-me. 
Estar aqui é estar a viver os planos que de nossos ganham sentido, estar aqui é construir o futuro que é de todos, posso escrever isto vezes sem conta e repetí-lo baixinho, bem baixinho para que pareça certo e parece...mas não é certo, não estando longe.
O vento sopra tudo rodopia e a vida vai, segue, sublime, errante mas quando tudo cinde não é o certo que conta, não é este certo que conta...o que conta somos nós, enquanto seres. Seres únicos que ganham vida quando amam, quando tudo cinde só o amor é certo, quando tudo cinde só nós fazemos sentido e este amor que nos une. Quando tudo cinde o certo não conta.
Tudo isto é mais, muito mais que uma prova entre o bem e o mal, o certo e o errado. Muitas vezes, demasiadas vezes o bem confunde -se com mal e o mal com o bem. Muitas vezes, demasiadas vezes o certo confunde-se com o errado e o errado com o certo. Por isso, quando procuro um sentido, quando anseio por um sentido, quando quero que esta saudade que é dor apazigue tudo finda, porque nada é capaz de justificar este tempo que perdemos uns com os outros, este tempo que não mais será nosso. 
Nunca, nunca nada está certo quando o que está certo é que não estejamos juntos. Agora, aceito o inaceitável e este bem que é mal e este certo que é errado e durmo para que o vento sopre e o tempo passe para que não demore a minha chegada e inevitavelmente a minha partida.
Quantos mais aniversários  não serei o fôlego com que sopram as velas? Quantas mais noites não poderão receber o meu beijo de boa noite? Quantas mais perdas não conseguirei apoiar? 
O vento sopra, o tempo avança, dizem que está quase a findar...eu já não o conto, dói menos. Eu espero, nós esperamos por um tempo que peço que não seja tarde demais, só peço que não o seja. 


segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Noites de Inverno

     As noites frias trazem o estalar da madeira que é agora atravessada pela força do fogo, esta é a nostalgia do Inverno que se cobre de um laranja vivo no qual os olhos se perdem iniciando uma viagem com destinos conhecidos, passados e vividos.
   Baixamos as nossas defesas e entregamo-nos ao calor que o nosso corpo recebe na ânsia de mais. A cadeira em forma de baloiço, baloiça as nossas memórias mais tristes para que adormeçam e também se entreguem ao calor da lareira, mergulhando nela para não mais voltar.Baloiçando para trás e para a frente lançamos mágoas e lágrimas e recolhemos a força da chama que nos aquece e alenta.
   Procuro a tua mão e agarro-a para não mais soltar,não trocamos olhares nem palavras, mas beijas-me a mão, para nunca mais deixar de a beijar.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Avó

Tudo foi num sopro de vida por viver, num sopro de ida sem retorno, num sopro de nada de tudo.
Quando a noite cair, num sopro se concentrará o teu brilho na estrela que será a mais brilhante.
Nunca pensei que este momento chegasse tão repentino, numa despedida que não foi diálogo mas monólogo.
O pano caiu, mas a peça não continua, não mais continuará. Talvez noutro palco, noutro tempo, noutras cores, noutro segmento de vida por viver, de certo mais ofusco, mais frio, num conjunto de mais que são menos.
Todos os momentos que vivemos são embrulhados em laço, que insisto em desembrulhar para que te sinta mais perto, porque o frio do que nos separa é a imensidão da escuridão que nos assola.
Recordo o último beijo que te dei na testa e como temi que fosse o último...