segunda-feira, 30 de junho de 2008

Devolvam-me

A Terra perdeu o seu movimento orbital. O Sol não irradia. As estrelas não cintilam, estão fixas e estáticas sobre um plano escuro que se confunde com a noite.
Estou longe do que sou e do quero ser. O amanhã é a única certeza da incerteza do presente.
Tenho pensamentos que não me pertencem. Tenho palavras por dizer, saber, perceber, decorar. Tenho provas a dar. Tenho tempo por passar. Tenho o que não me pertence.
Dás-me a tua mão? Preciso que me guies neste percurso que faço de confiança vendada e com medo vigiante.
Perdi o Norte antes de descobrir onde estava o Sul, perdi a orientação da tranquilidade e da sabedoria. Espero agora que a bússola da vida volte a respeitar as leis magnéticas dos meus sonhos. Não irei ceder, antes de tal voltar a acontecer não prossigo.
O meu caminho terei de ser eu a decidir e a traçar, ainda que seja o errado. É o meu. Só eu o poderei orientar. Não quero palpites, nem ideias soltas. É a minha vez. Não quero que tomem conta do que é meu. Não quero nada do que não me pertence, porque hão-de os outros querer o que é meu?
Recuso-me a prosseguir enquanto tudo não voltar a tomar a orientação magnética dos meus sonhos. Devolvam-me a bússola.
Quero espaço e tempo. Preciso de espaço e tempo. Peço espaço e tempo.

sábado, 7 de junho de 2008

Em Lá, entre o Sol e o Si




Pedi às pedras da calçada para que guiassem os meus passos e os meus pensamentos. Uma a uma, de forma gentil e cúmplice, assentiram ao meu pedido. Seguiram as coordenadas da Lua e somaram-lhes as indicações do Sol.
Estive entre o Sol e o Si. Estive em Lá.
Ouvi o silêncio mais profundo do meu ser, ouvi o eco do seu grito. Aprendi o significado de cada imperfeição do meu corpo. Li e reli a sina que trago em cada linha das minhas mãos. Vi cada um dos sorrisos sinceros que dei na vida, vi também as lágrimas sentidas. Passaram por mim todos os momentos da minha história, os bons e os maus, formavam uma roda. Quando tentei fechá-los entre as duas mãos, desfizeram-se como pó. Foi, então, que surgiu uma gargalhada. Foi o tempo, que desfez os momentos e ainda soltou uma risada.
Existem etapas na nossa vida que exigem uma paragem, pois só assim teremos as respostas necessárias para escolher um dos lados do cruzamento. As pedras da calçada, ou a calçada das pedras, não me recordo bem, trouxeram-me de volta até o cruzamento da encruzilhada da minha vida. Agora, já ninguém me pode ajudar. Nada me pode guiar. Agora, sou eu por mim. Agora, sou eu a falar e a escutar. Agora, sou eu para mim. Agora, sou eu comigo. Não sei qual dos lados vou escolher, nem qual deles será o mais correcto. Direita. Esquerda. Em frente. Norte. Sul.
E se seguir o caminho errado? Terei tempo de voltar para trás? E se quando o quiser fazer, o tempo desfizer a estrada e soltar uma gargalhada tal como fez com os meus momentos? Como será?
Tenho medo de falhar comigo mesma, desta vez retirar um ensinamento não será suficiente. O tempo vai soltar uma gargalhada.Tenho medo de falhar com o meu futuro, desiludir-me a mim própria, ao Sol e à Lua.
Os meus cabelos estão a chorar, começou a chover e nem me apercebi. Está na hora, tenho que avançar! Mas para onde?
Vou ter que arriscar, a vida obriga-me, ou será o tempo? Ele quer rir-se de mim.
Vou avançar. Vou lentamente. Passo a passo vou encontrar o meu caminho. Percebi o porquê de me terem guiado até Lá. Assim, pude recordar-me de que as respostas às nossas perguntas estão nas estrelas, nós não as encontramos porque nos esquecemos de erguer a cabeça, vivemos de olhos postos no caminho, no chão da vida.
Agora, vejo! Está tudo nas estrelas.