sábado, 18 de setembro de 2010

Estrela Cadente


Em todas as noites que se seguiram àquela noite, desejei que a vida fosse mais, muito mais próxima daquele instante. O instante em que rimos num coro uníssono, em que fomos corpo e alma do mesmo sentimento,em que nos unimos numa cumplicidade única e fomos amor puro. A Lua que esta noite contemplo não é a mesma que iluminou a nossa presença, nem a mesma que juntos contemplamos.
Vagueio nas horas do dia e da noite, procuro o que verdadeiramente me move e me motiva. Vagueio em mim mesma até admitir, por fim, que tenho que continuar a viagem num espaço e tempo em que a distância que nos separa é dolorosamente real e o vazio da vossa ausência dói como uma ferida permanentemente pressionada.
A noite calma declarou guerra contra o descanso e a paz que aqui perco. Resta-me desvendar a posição das estrelas que só no reflexo do vosso olhar consigo decifrar.
À queda de uma qualquer estrela cadente pedirei que me leve no sopro de um beijo leve até vós.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Cinco


O eco deste ténue silêncio desperta-me do sono que não dormi e do sonho que não sonhei. Cada pôro da minha pele respira por si para que todos se unam num corpo uno e uníssono.

Aceito esta última dança do dia e da noite que passou e passa para que possa por fim despertar do sono que dormi e do sonho que sonhei, por fim. Só mais uma roda e entrego-me ao cansaço que enfim me assola.

Deixo que seja o Sol o meu despertador, aqueles raios que me aquecem e despertam de mim mesma, mas esta manhã insisto e resisto, não deixo que nada em mim se mova, a não ser esta vontade que cresce no meu interior, para me deixar sonhar este sonho que por ser meu, me pertence, que por o sonhar, é meu e me pertence.

O teu lado da cama está vazio, branco de esperança, vive e espera por ti para que este sonho seja agora feliz, agora e no segundo seguinte, feliz, porque o depois nada sonha ou promete e só o medo reina nesse instante que vai para além do segundo seguinte, onde tudo pode deixar de ser feliz.

Espero-te no meu lado da cama para que possa sonhar esta felicidade só mais um segundo, este que passou.



Saudades deste sonho nosso, deste nosso sonho.


quarta-feira, 14 de julho de 2010

Nossa Ilha

Nesta ilha de laços de amor e ternura os dias são mais longos e cheios, são dias os dias.
Do nevoeiro revestido de tonalidades negras surge o bafo quente da maresia que banha esta ilha de flores e cores, que aquece o corpo e a mente e faz sorrir.
Colho realizações e desejo de festejar onde antes plantei sonhos e esperanças, coloco em água para que não murchem ou morram.
Muito embora não veja o horizonte, agora mascarado de nuvens postas e sobrepostas, sei-o e isso basta-me, verdadeiramente basta-me. Assim como me basta este não fazer, este simples estar. Basta-me ser e estar nesta ilha de encantos. Basta-me ser. Basta-me estar. Basta-me respirar nesta ilha de jardins, no fundo basta-me sermos e estarmos aqui ou ali, adiante ou mais atrás. Basta-me.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Leve Sopro


Neste instante que é a vida o fim chega demasiado depressa, entre sorrisos e lágrimas tudo se desvanece num só sopro.
Abro a mão e deixo cair os grãos de areia, um a um, cristalinos e distintos dançam ao sabor do vento até silenciosamente posarem no areal. Deixo que a espuma da última onda me toque nos pés, espero que a próxima onda se forme e observo-a até que quebre, desde o seu início até ao seu fim. O pôr-do-sol pontua o final do dia, o final do dia de hoje.
É o instante da vida que quero agarrar com as duas mãos, agarrando-me a vocês que são a vida.
Tenho saudades da felicidade que foi e vontade de viver a que virá. O limiar entre o que foi e o que será determina o compasso desta dança em pontas.
Hoje só quero correr para os vossos braços e ser feliz por vos ter, hoje só quero relembrar que vos amo e que sinto a vossa falta a cada inspiração e expiração. Falta pouco para que os vossos braços se tornem o porto de abrigo da minha chegada e é esse momento que aguardo agarrando o instante da vida com todo o cuidado para que nada se desvaneça nem quebre, agarrando-me a este amor que nos liga. Porque este instante que é a vida quero vivê-lo ao vosso lado.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Ida


A luz cessa a cada ida tua, a luz escurece a cada volta tua para onde não pertences, longe de mim.
Perco-me na recordação da felicidade que a noite anuncia quando as nossas almas estão de mão dada, quando o sorriso começa nos meus lábios e termina nos teus.Nesses teus olhos castanhos reais procuro a verdade, a nossa verdade, essa verdade que transforma os dias em doces momentos para viver, essa verdade que me acompanha no azedo da tua ausência.
Hoje, a noite está mais escura do que ontem,por isso, não vou à varanda à procura de estrelas cadentes nem tu me vais fechar entre os teus braços como sempre fazes. Hoje, não vou adormecer nos teus braços, por isso, não vou adormecer com o coração cheio de felicidade. Hoje vou sentir saudades tuas.Hoje sinto saudades tuas.
À despedida pedi-te o que te peço sempre :" Não demores a voltar", agora peço-te para que voltes, para que não esperes pelo dia que marcamos juntos no calendário da nossa história,peço-te que chegues.Oiço os teus passos mas demoras a abraçar-me,sinto o teu cheiro mas demoras a aproximar-te, vejo a tua sombra mas demoras a chegar, toco-te mas demoro a sentir.
Vem, para sempre.

Incompleto


(...)O Sol abraça a linha do horizonte e hoje não voltará a brilhar, passo a passo deixo na areia molhada as dicas para quem não souber que caminho seguir. Ao quebrar de cada onda relembro todos os planos que tinha para o dia de hoje e que não realizei, experimentando uma estranha sensação de ansiedade.

Fecho as mãos com força na esperança que renasça em mim o sorriso de outrora, a coragem de outrora. Os cabelos em forma de caracóis dançam num vento que sopra cortante na pele macia e branca, os braços fecho-os no peito e tento respirar quando o ar me falta e sigo na esperança que vá encontrar sempre espaço para o próximo passo entre o quebrar de cada onda(...).

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Horizontes azuis



Faço das águas límpidas o oceano no qual mergulho e me entrego. Perdi as horas e o tempo, faço do presente tempo passado e eterno.
Espalho pétalas de rosas nesse oceano que me leva até onde quero ir, em movimentos suaves e doces nado nas águas sem movimento, mas com vida. Há muito que não ambiciono o porto que de tão seguro perdeu o equilíbrio ente os opostos, mantendo apenas o que é igual.
Esta noite, faço da Lua confidente de desejos suspensos no ar, faço das estrelas pedras de riacho nas quais salto de uma em uma. Todas as desilusões amarrei-as em laços flutuantes e deixei-as correr na corrente mais forte, sem querer conhecer o rumo que tomaram.
Quero aprender outros caminhos que não os que me levam exactamente aquele porto que de tão seguro é inseguro, quero vestidos de seda cor de azul água que esvoacem no ar e me levam a conhecer novos horizontes, pelos quais me apaixonarei e quererei ficar sem nunca mais partir.
Esta noite quero ir e ficar.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Acto I


A noite vestiu-se de azul e caiu sem lua ou estrelas, enche o palco de luz e brilho para quem nele quiser actuar.
Sento-me na primeira ou na última fila, é indiferente, a peça é só uma e conta apenas uma história que não a minha. Mais tarde em pontas de pés, farei deste e de todos os outros o meu palco e do último o primeiro lugar. Mais tarde quando o Sol brilhar e a cortina baixar.
Quero do grito o eco da tua voz, da tua actuação e da tua história. Faz da tua peça o meu cenário e da minha história mil e um conto em que és personagem principal.
A noite caiu, os personagens perderam a fala, é hora de silenciar.