segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Canela


Como uma pena que se deixa mover ao sabor e som do vento, também eu me deixo ir neste rumo. As noites trazem a brisa fria da distância que me separa de mim mesma.
Esta noite, como em todas as outras, apanho banhos de luar e estrelas, à espera que as noites de verão me voltem a encontrar.
Vou e venho, conto as pedras do caminho, salto e contorno estas voltas e reviravoltas, na esperança de seguir sempre o melhor caminho.
Nesta altura, em que as folhas se deixam cair do alto que ocupam, eu calço cristal e assumo os passos de uma dança que se quer prefeita. Passo e contrapasso, uma pirueta e mais passos e contrapassos. E, agora, relembro aquelas noites de verão, que assim o eram não por ser verão mas por serem intemporalmente quentes, muito quentes, que quase me fizeram esquecer desta coreografia.
Não foi fácil aprendê-la e ensiná-la ninguém pode, mas eu aprendi-a e quase a desaprendi.
No fumegar do chá que há muito ferveu, também eu me sinto a fervilhar por tudo o que tenho que voltar a aprender.
Sorriu e deixo cair uma lágrima ao dizer baixinho, muito baixinho que posso aprender muito, mas nunca vou aprender a estar sem vocês, porque não se pode aprender a não ter vida.
Enrolada no sabor a canela do chá que bebo, enrolo-me em vocês e rebolo a rir nesse amor que me dão.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A primeira chuva de Outono é doce


A primeira chuva de Outono cessa a sua queda para que o Sol possa pôr-se e, por fim, ilumine as gotículas de água suspensas nas lacunas dos tapasóis. A primeira chuva de Outono é doce.
No meu quarto, do lado de dentro da janela posso contemplar os raios luminosos a ultrapassarem as pequenas gotículas que, agora, fazem lembrar pequenos diamantes.
Perdi a conta de quantas vezes fiz malas, recordações e memórias de abraços, beijos e sorrisos, tendo simultâneamente que desfazer malas, lágrimas, sofrimento e saudades.
Neste fim de tarde, deixo que as gotículas se confundam com as minhas lágrimas e faço dos raios de Sol a força que preciso para mais uma vez partir.
Pensei que desta vez fosse mais fácil, afinal já o fiz quando o pensei impossível, mas no regresso trouxe a convicção de que já não voltaria a partir como se tivesse sido duro mas já tivesse feito o caminho que tinha que ser feito, contudo só terminei a primeira etapa.
Neste fim de tarde, deixo que o meu corpo se entregue a si mesmo, esperando que se solte de todos estes laços de amor e carinho e os amarre a ele próprio.
Neste fim de tarde, vou deixar o sol pôr-se e a noite subir ao céu para que a primeira chuva de Outono volte a cair ,doce. Abrirei todas as janelas da casa e todas as janelas do meu ser, sairei em qualquer uma delas e deitada entre as rosas caídas de Outono vou deixar-me chorar e que tudo chore a minha passagem até ao meu regresso.


P.S.- Obrigado por fazerem de mim o que sou.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Dança perfeita


No silêncio da noite descubro-me na dança da sombra e do reflexo que são meus.
O meu ser segue o compasso da melodia, que de tão longínqua parece fugir entre os movimentos das minhas pernas.
A Lua é a única testemunha desta dança perfeita de mim para mim.
Há muito tempo que ansiava por este céu de estrelas, há muito tempo que ansiava libertar-me de tudo o que perturbou o compasso perfeito da minha dança.
A cada pirueta e passo recupero o ar, o fôlego que me faltava para continuar a compor esta dança. Na sombra escura dos traços do meu corpo em movimento o vestido não perde o branco brilhante que o caracteriza e eu não deixo de sorrir por o reconhecer.
É este branco que ajusta os passos e ampara as quedas, que também são parte integrante desta dança. Sem este branco nunca teria havido dança, nem noite, nem Lua, nem estrelas. É este branco que me inspira a dançar, a sorrir e a ser feliz.
Nesta noite fria, danço sem parar porque roubaste todo o ar que era meu, só meu, era branco de tão meu que era. Nesta noite fria, danço sem parar porque me fizeste cair e rasga-te o branco do meu ser com toda a cobardia e egoísmo que existe em ti.
Nesta noite fria, só a Lua é testemunha desta dança do meu ser que se ampara nesse vosso branco que é tudo, só ele é tudo.
Obrigado.
Adeus.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Tempo é espaço


Tempo é espaço.
É neste espaço que tento recuperar o fôlego, sarar as feridas e fazer da dor passado.
É neste espaço que sigo sozinha, ainda que a tua sombra me persiga e se imponha.
É neste espaço onde já não há certezas que tento seguir em frente.
Não quero andar de mão dada, não quero que me limpem as lágrimas nem que retirem os obstáculos da passagem. Quero vencer.
Tempo é espaço. Neste tempo dá-se a desunião do uno.
É tempo de vestir o meu vestido de rosas e fazer do meu corpo o jardim da minha alma.
Neste tempo não há espaço para a cor, reina um negrume que se arrasta por entre becos e caminhos, onde noto a ausência do cor-de-rosa e do cor de laranja.
Este espaço é longe de tudo o que conheço e que gostaria de conhecer.
Este espaço é tudo o que não queria, mas é o que tenho.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Rosas e estrelícias


Hoje o Sol brilhou, mesmo sem conseguir penetrar na densa nebulosa que o encobre.
Nesta dança de rosas e estrelícias faço rodar este vestido de recordações e certezas, que teci a cada dia da minha existência.
Danço entre os teus braços para que me agarres perante um qualquer desequilíbrio. Olhas o meu vestido e os teus olhos rodam ao seu ritmo.
Hoje o Sol está quente, ferve na pele.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Conto-te


Conto as estrelas da noite, perco-me e encontro-me, somo e subtraiu até dar resto zero esta divisão una.
Conto as ondas do mar, riu e choro, vou e venho até encontrar o porto seguro do meu ser.
Conto e reconto, os beijos que trocamos, os abraços que demos, as promessas que fizemos na esperança de multiplicar cada parcela desta união.
Vou render-me à manhã solarenga .Vestir o meu vestido branco, soltar os meus caracóis, voar.
Vou render-me ao dia em que o meu olhar encontrou o teu, o meu sorriso terminou no teu e senti o coração disparar.
Vou render-me à rosa vermelha que me ofereceste, às surpresas que me preparaste, à paisagem da nossa praia e entregar-me a ti.
A orientação perdi-a, a bússola de quatro passou a um ponto cardeal. A ti.
Vou render-me a mim mesma.
Dá-me a mão e fecha os olhos. Sente este amor que cresce e cresce na esperança que a distância não te impeça de o sentir a cada manhã e a cada anoitecer.
Sente o ritmo do meu coração, sente a dança deste amor .
Sente-me, meu bem. Sente a canção que te embala.
Boa noite, meu amor.

sábado, 9 de maio de 2009

Saudade do Mar


A chuva passa, deixa o cheiro a terra molhada, quando só quero sentir o cheiro a areia banhada pelo sal do mar.
Momentos estes em que a inspiração me foge, rodopia por entre os meus pensamentos sem se deixar apanhar, só me resta agarrar este sentimento maior do que eu.
Brinda o anoitecer com o teu sorriso e prometo não pedir-te mais nada.
Sorriso de mil estrelas, de todos os céus azuis, de todos os dias quentes e frios, de todos os dias da minha vida.
Momentos estes em que a inspiração me foge, nunca serão suficientes para roubarem estas sílabas que por serem para ti, sobre ti, fluem segundo as leis naturais.
Deixaste a tua presença em todos os cantos e recantos desta casa, tal como já tinhas feito antes, dou por mim a sentir-te presente nesta tua ausência.
Entre a tua partida e a tua chegada, o meu olhar evita sempre o fim daquela estrada por onde viajas , por onde vens e vais. Entre a tua partida e a tua chegada, sinto-me perdida.
Segues o ritmo do mar, vens e vais, e entre o ir e o vir, inundas-me com todo esse ser, pelo qual anseio ter lado a lado com o meu a cada segundo.
Não demores no teu ir e vem depressa, porque me perco em saudades e lágrimas. Não demores porque quero ser feliz, dançar e cantar só para te ver sorrir, fazendo da vida o cenário deste nosso amor.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Rede de vida


Deitada na rede de pano deixo o meu corpo baloiçar, o meu cabelo brincar com o vento, e o meu vestido dançar com o ar.
Fecho os olhos. Sonho e acordo.
Deixo que o Sol encontre a minha pele, espero que me aqueça por dentro e por fora. Talvez assim, se distribua em mim este lume de receios que enche o meu coração.
Agarrar em tudo quanto amo e quero bem. Proteger, cuidar e fazer feliz.
Faço com que a rede balance mais do que o peso do meu corpo a faz mover. Ao alcance dos meus olhos, a nuvem branca aparece e desaparece à medida que a rede vai e vem.
Secretamente, desejo intimamente poder ser eu a ditar o vai e vem da vida. Indo tudo o que de mal viesse, vindo tudo o que de bom está para vir.
São muitos os caminhos por onde posso seguir, mas juro escolher os que mais perto de vocês me levarem. Neste vai e vem da vida.

Palavras

As palavras ecoam na mente.Leves, soltas, sós.
Somam-se ao vazio e silenciosamente gritam. Não vão mais além.
Os nós apertados soltam-se, o significado perde-se no ar, o horizonte desaparece.
A janela insiste em não abrir e mais nada ecoa nem voa.
Os passos desvanecem por entre o algodão, ninguém está presente.
O céu está mais alto, o futuro mais longe, o presente mais pesado.
Só as palavras ecoam na mente. Leves, soltas, sós.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Faz-me tua

Fecho os olhos e é como se ganhasse asas. Os pensamentos levam-me exactamente onde quero ir.
Sinto a areia, oiço o mar, solto gargalhadas e faço corridas em direcção ao infinito finito.
Sinto o Sol queimar-me a pele, tatuando o biquini nos contornos do meu corpo.
Os pensamentos levam-me onde quero ir e ser o que não quero, mas posso ser.
E ali, onde estou, não sou de ninguém. Sou minha, sou eu.
Dou grandes passeios e grandes mergulhos. Faço castelos na areia, sem príncipes nem princesas. Salto e danço. Caío e levanto-me porque a areia é movediça. Sorriu e riu, mas não me dou, porque sou minha, sou eu.
Ao abrir os olhos, perco as asas e sopro as penas. Vou deitar-me, mas não fecho os tapasóis, vejo e sonho estrelas e luas. E os sonhos levam-me exactamente onde quero ir e ser o que não quero, mas posso ser.
A saltar de nuvem em nuvem o Sol e a Lua em sopro de segredo confessam-me serem amantes eternos, como seria de desconfiar pelo lume que queima em cada um dos seus encontros, em cada eclipse.
A saltar de nuvem em nuvem o Sol e a Lua confessam-me serem amantes eternos e faço disso uma canção.
Vem conhecer a praia dos meus pensamentos, soltar gargalhadas, fazer corridas, sentir o Sol, dar grandes passeios e mergulhos, fazer castelos e ser deles príncipe e fazer de mim a princesa que sou, dançar e saltar, sorrir e rir.
Vem conhecer a praia dos meus pensamentos e faz-me tua.
Adormece-me e conhece os meus sonhos. Vem saltar de nuvem em nuvem e fazer do amor eterno do Sol e da Lua o nosso amor, e fazer dele a canção da nossa dança.

Jardim de sonhos

Dentro de mim tudo foi alvoroço, dentro de mim tudo sentiu a (tua) chegada.
Dancei na palma da tua mão. Dancei para ti, mas nunca conheceste a minha dança.
Fechaste os olhos de cansaço, enquanto eu dancei na palma da tua mão, para ti.
Hoje, hoje, danço no jardim dos meus sonhos, ansiando pela palma dessa mão que se fechou.
Danço por entre rosas, de todas as cores, mas só faço piruetas ao passar pelas rosas vermelhas, por serem as rosas plantadas dos ramos que me ofereceste.
O Sol bate na minha pele branca, recria a minha dança no chão do jardim dos meus sonhos. Eu danço, a sombra dança só tu não danças nem vês dançar.
Hoje, hoje danço no jardim dos meus sonhos.

sábado, 28 de março de 2009

Tempo em tempestade

Pensamentos imensamente vazios de tão cheios. Levantar os olhos, fechar os livros, um a um, olhar mais alto, ver mais e melhor.
Procurar um outro horizonte.
Definir outros conceitos, planificar outras experiências. Sorrir só por sorrir e soltar gargalhadas até que o seu eco se perca de tão alto que as darei.
Abrir a mão deixar cair a flor, ou pétala a pétala. Abrir a mão e deixar que se perca tudo o que se perde. Fechar a mão à queda da última pétala. Implacável como a vida.
Seguir em frente, passo acelerado que atrás vem gente e tempo e eu só te quero a ti e a vocês e tempo, tempo não o tenho.
Abrir todas as janelas da casa e deixar as portas baterem, estremecer com o mundo exterior para que o interior desperte e volte a ser real. Que de tanta fragilidade congelou.
Fechar os olhos aos raios de sol que me batem de frente, abrir os olhos à noite que cai.
Perdi-me e encontrei-me, nesses abraços que de tão abertos dão-me espaço para ficar ou ir se quiser seguir a força do vento e virar costas ao que foi.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Erros frios

É noite e o ar é frio. O arrepio percorre toda a pele desde a base do pescoço até as plantas dos pés, primeiro atrás depois a frente do corpo. É noite e a vista da varanda não é a mesma que de dia.
Na cama, adormecido num sono profundo, estava Ele.
A camisa da noite de seda apurava todos os seus sentidos, naquela noite, em que precisava precisamente que todos os seus sentidos fossem atraídos de tal forma que de cansada também podesse adormecer.
Na cama, adormecido num sonho profundo, estava Ele. Ele. Ele.
Deixara de o conseguir definir desde a última zanga. Deixara de o conseguir definir desde a última quebra de confiança. Ele…
O ar soprou num tom ainda mais frio e voltou a provocar-lhe um arrepio, ao mesmo tempo que do rosto se separavam lágrimas salgadas que lhe molhavam o rosto, e continuavam o seu percurso seguindo a linha do seu pescoço fino, até atingir a seda da sua camisa onde se dispersaram como se tivessem encontrado o que procuravam há muito.
Também ela pensara ter encontrado o que há muito procurava, com o qual até sonhava ainda que não de forma permanente. Mas , desde aquela discussão tudo estava em certezas de pena, incertezas de ferro.
A Lua e o Sol estavam alinhados. Metade por metade. O novo dia estava por nascer, e sem se aperceber tinha estado, todo aquele tempo, estática na varanda da sala, para que Ele não acordasse.
Nesse instante sorriu. E sentiu vontade de voltar a encontrar-se no corpo Dele.
Voltou para a cama, do sono profundo Ele despertou para a realidade do sonho que estava a seu lado, e mesmo sem abrir os olhos como conhecendo de cor todos os contornos do corpo Dela levantou o braço para que Ela se deitasse e voltou a fechá-lo mal a sentiu encostar-se ao seu corpo.
Foi naquele abraço que o ferro transformou todas as incertezas em penas que voaram de tanta leveza. Foi naquele abraço que recuperou forças e percebeu que todos nós erramos, mas esses erros não nos fazem deixar de sermos quem somos. São apenas erros, que quem nos ama tem que saber ou aprender a perdoar.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Dança da Vida

A cada pirueta no ar aprendo a olhar em frente. A cada queda volto a ter medo de tirar os olhos do chão.
A balança mantém-se equilibrada.
Os dias sucedem-se, eu sigo a dança. Entre espelhos e reflexos, entre sombras e sobreposições deixo que o meu corpo fale, cante e dance ao som do movimento da (minha) vida.
Entre o cansaço que me afasta do meu ser, entre o cansaço que me faz sentir fora de mim mesma, fui dominada pela melancolia no olhar e no estar desta cidade. Como se uma rotina imensa domina-se todos os meus pensamentos, gestos e passos. Ainda assim, sigo entre a multidão, ansiando chegar ao outro lado da ponte. Do outro lado, onde vou finalmente respirar ar puro, e encher o meu espírito de ti.
Enquanto esperas, não deixes de me estender a mão, nem de me oferecer esse teu sorriso rasgado que ilumina este caminho que sigo.


sábado, 28 de fevereiro de 2009

Espero pelo Sol

Hoje, esperei pelo Sol. Hoje, sentei-me na mesma cadeira de sempre, junto à janela. Hoje, esperei pelo Sol.Hoje, o Sol não veio.
Tudo permaneceu cinzento e sombrio. Dentro e fora de mim. Logo agora que eu preciso de luz.
Sorrisos grandes e pequenos, por simpatia e espontâneos. Abraços pequenos e grandes, mais e menos apertados. Olhares demorados ou rápidos, claros e escuros. Não importa, só importa que sejam os vossos sorrisos, os vossos abraços, os vossos olhares.
Desconheço tudo o que se passa dentro de mim, mas sei que também já não há sol. Tudo permanece cinzento e sombrio.
O céu acabou de ficar ainda mais escuro, dizem que anoiteceu. Agora, espero pelo Sol neste céu que desde que me sentei nesta cadeira se aproxima cada vez mais do meu interior.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Inspiração vazia

Fecho os olhos enquanto o vento sopra no meu rosto. Sorriu.
Papéis e mais papéis por preencher e a inspiração falha-me. Troça de mim.
Não a critico. Sempre foi genuína sem princípio nem fim. Sempre bem-vinda.
Quase se sente ofendida com os prazos estabelecidos e o meu medo de falhar.
Mesmo sem a sua presença, defini personagens, locais e interacções. A imaginação raramente nos foge, mas a inspiração, essa. Essa é a mais traiçoeira das aliadas.
Rendi-me. Rendo-me.
Já deitei tudo o que estava definido para o vazio do céu.
Agora, é a tua vez de te renderes, deixar o orgulho de lado e ajudar-me mais uma vez.
Inspira-me, inspira-me novamente. Não só desta vez. Inspira-me sempre. Mas desta vez mais do que até hoje.
Espera! Não fujas outra vez!
Pronto…inspira-me apenas.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Não adormeças já

Mesmo sem a inspiração própria, mesmo sem nenhuma ideia para preencher o branco do papel, mesmo assim, preciso de escrever porque a noite é longa e fria, mas dentro de mim é tudo quente e ainda mais longo.
Pensamentos acelerados, na sua maioria descompassados. Abro e fecho os olhos. Procuro uma fonte de luz. As estrelas estão apagadas e a Lua foi-se embora.
Vagueio em mim própria. Procuro a chama da vela que o vento apagou.
Abro e fecho os olhos.
Procuro a luz. Chamo por ti. Adormeceste.
Fechaste os olhos. Como posso eu encontrar a luz?

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

(Des)Ilusões

Pensar que toda a minha vida por olhar apenas na direcção em que me desloco, nunca na direcção oposta, perdi pormenores inteiros e paisagens completas.
Dei comigo a redescobrir ruas que achei já conhecer por simplesmente ter-me deslocado a pé, numa direcção oposta à que os carros podem deslocar-se e na qual também eu sigo. Dei comigo a conhecer segmentos de uma cidade que loucamente julgava conhecer.
Quantas mais paisagens, segmentos e reflexos perdi ao longo de todos estes anos? Quantas das ruas da minha infância reconhecerei de perfil e não apenas de frente?
Na verdade, esta nossa forma de ver o mundo decorre em grande parte da própria forma de estarmos na vida. Receio de olhar para trás, ânsia de seguir em frente conhecer o que vem a seguir, o fim. Do livro, do filme, da peça de teatro.
Tu rias-te de toda a minha surpresa e ao mesmo tempo de toda a minha inocência ao perguntar-te se tinham construído um prédio novo, uma nova estátua, aberto uma nova igreja.
Porque o mundo, não é como é, mas é como o vemos. Temos mundos diferentes. Pormenores ausentes. Pormenores presentes. Distintos.
Tu rias-te de toda a fragilidade da minha orientação, confundias-me de novo e ainda te rias mais.
Vivemos nesta inocência do conhecimento exacto e absoluto seja do que for, seja de quem for.
Entre surpresas boas e más seguimos em frente, evitando olhar para trás. Entre dias e noites somos felizes e infelizes. Entre hoje e amanhã esperamos sempre que venha o melhor logo depois do agora.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Saudades

Hoje, encontrei a caixa dos teus óculos de vista. Aquela que perdeste há muito tempo.
Abri-a. Fechei os olhos e senti as lágrimas da saudade.
Senti o teu perfume, Mãe. Senti o teu abraço, Mãe. Senti os mais doces dos beijos, os teus Mãe.
Afastei-me dos livros, das letras, dos conteúdos, do cansaço.
Mergulhei naquela caixinha que me trazia parte de ti, de vocês.
Ouvi a gargalhada do Papá, a voz e o respirar de quem fuma há muitos anos. Quantas vezes descansei todas as minhas inseguranças no seu peito, e ao ritmo de cada inspiração ganhei novas confianças.
Tenho saudades de andar de mão dada contigo, Mamã. Tal como fazia quando era pequenina e na verdade nunca deixei de o fazer. Tenho saudades de te ver adormecer com as festinhas do Papá no teu cabelo ruivo. Como se já soubesse de cor o caminho que vai do meio da tua testa até atrás da tua orelha.
Tenho saudades, Mamã. Tenho saudades, Papá. Tenho saudades de vocês, de nós. De mim e do mano com vocês. Tenho saudades de nós.
Abraço a caixinha cinzenta que tem em si a cor de ouro dos mais preciosos tesouros. Mais do que o perfume da Mamã, tem tudo o que trago comigo e que me dá forças para continuar, quando longe de vocês são tão poucas as que existem.
Foi muito difícil regressar a esta distância. Mais do que da primeira vez. Quando penso quantas mais vezes será assim difícil…
Sei que precisava de sair, de crescer, de ser e pensar por mim. Sei que nos precisamos de perder para encontrar….mas sei também que preciso de vocês mais do que tudo, e vocês de mim, de nós. De mim. Do mano.
Até já.
Não digo que vos amo dessa maneira que sentem, porque ainda amo mais.