segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Dias

Há dias que nos surgem como um zumbido, ora longíquo, ora próximo. Como se tudo fosse dispar do que o dia deveria contar.
As nuvens eram escuras, carregadas, pesadas. Choveram.
O Sol era claro,simples, leve. Apagou.
O vento era fraco, linear, fugaz.Voou.
Há dias que são meros dias, que somente são.
Sentei-me à janela a adivinhar a Lua. Imaginei uma esfera acinzentada, com pequenas concavidades identificáveis a olho nu, ao perto mas não ao longe. Sentei-me e esperei.
A noite caiu num longo pano que se fez escuro, para mim era claro. Com aguarelas pintei as estrelas e a Lua, as estrelas a cinzento e a Lua a amarelo. Sentei-me, esperei e sonhei a noite.
Há dias que nos surgem como gravuras por colorir, espaços por desenhar, vida por viver.
Hoje, a Lua está amarela e os meus olhos cintilantes.
Sentada, espero a Sonhar(-me).
O dia foi.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Tu Sol




















Fecho os olhos e o Sol chega. Aquece a pele, clareia a existência. Trato-o por Tu e peço-lhe o embalo das tardes quentes de Verão.
Fecho os olhos e quero Ser sem medo do que há-de vir, sem chorar o que foi.
Fechos os olhos sem adormecer o pensar e o sentir. Revivo o viver presente, torno-o passado do presente.
Fecho os olhos e tudo em mim é ausência.
Fecho os olhos e vejo.





sábado, 22 de setembro de 2012

Peças

Do barulho sobrou o silêncio, da rosa as pétalas, do tempo a saudade. 
Do que é o que foi. 
O hoje fica para amanhã.


segunda-feira, 9 de julho de 2012

Incompleto

A brisa brinda a noite, arrepia a pele. Dou voltas ao vazio que ecoa no exterior da minha existência. Permaneço no silêncio de mim mesma, vivo um tempo que chega. Abro e fecho livros, janelas e portas na ânsia de encontrar rumos apaziguadores do pensar e do sentir.
    (...)

                                                    

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Horas


Há dias em que a vontade é maior do que o viver. De cada inspiração fiz esperanças renovadas, vãs de realização. Espero por mim mesma no porto de todas as chegadas (e partidas).
Corre em mim a vontade de fazer e ter um viver repleto do que  Eu Sou. Não mais me encontrei.
Tenho Saudades de mim mesma, nestes dias mornos em que flutuo nas horas que só se fazem longas na solidão do reviver do que foi, na ânsia  do que será e do que deveria ser.
Tomara Eu deixar-me adormecer ...

domingo, 4 de março de 2012

Espero

No âmago da tarde silencio inquietações, vejo o Sol pôr-se. Espero o fim do dia e da semana, espero até amanhã. Enquanto espero, lavo angústias e dores. Estendo-as ao Sol. Espero que sequem, e que a Noite as guarde.
Confesso que a cada novo dia faço do Sol promessa e da Noite realidade. O dia é todo meu, a noite é tudo menos minha. No meio de mim e do nada nasce o medo de que os dias cessem e as noites reinem, imperando um tempo em que não mais serei. Aí a dor ficará, a Noite já não a guardará por mim.
Hoje espero o amanhã, hoje espero a chegada do Sol, hoje espero a chegada de novas promessas.


terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Chamar

Há noites em que creio ser capaz de escrever canções de amor, melodias de embalar e poesia. Há noites que susurram a minha existência e em céus estrelados oferecem espaços a serem preenchidos. Há noites em que não escrevo para não ter de lembrar o sentir.
Hoje, fecho os olhos e sei-me capaz de escrever-te cartas de amor a tinta vermelha sobre papel branco. Hoje, fecho os olhos e sei-me apaixonada e amada.Hoje, fecho os olhos e sei-me capaz de soletrar o nosso amor. Hoje, fecho os olhos e vivo-te, revivendo-nos.
A imensidão do sentir invade-me e leva-me o fôlego. Esforço-me para manter os movimentos de inspiração e expiração, enquanto o frio da tua ausência abre feridas na pele e faz sangrar a alma. 
Em confesso cansaço da Saudade, minha, Tua, Nossa e Deles, resisto à vontade que a noite acalenta de escrever amor, é maior o medo de esvaziar-me das recordações que bombeiam a minha vida.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Paisagens

As persianas estão meias abertas, deixando a luz do dia entrar e trazer promessas, nas quais gostava de acreditar. O vento sopra de Sul e corta as asas dos sonhos que podiam voar, porque as promessas de cada novo dia desvanecem-se à medida em que nelas acredito. 
Entre paisagens ora verdes, ora amarelas, encontro as mais belas paisagens de fundo, através da meia abertura que as persianas (de)limitam. A nudez da folhagem denuncia a ausência de Primaveras mil e a promessa não concretizada da chegada do reconfortante calor do Verão. Posso escrever um conto sobre cada uma destas paisagens, abraçando um tempo que começa e termina em cada uma das palavras que o contar sem promessa de mais. 
 As paisagens sucedem-se e é como se estivesse em viagem, as persianas não se movem, servindo de tela em que pinto promessas, poucas, ricas, no sonho de as ver concretizadas no tempo finito em que sou personagem principal dessas histórias que não ganham vida porque o vento sopra de Sul e eu sou o Norte. 
Momentos há em que fecharia as persianas só para não ter de sonhar o sonho do regresso.