segunda-feira, 15 de dezembro de 2008


Solto o meu cabelo, outrora condensado num único rabo-de-cavalo. Deixo-o dançar ao sabor do vento, provar a doce ilusão de liberdade.
Paro. Espero que o sinal fique verde.
Perco-me nos sonhos que foram meus num outro tempo, no tempo em que era eu e os sonhos, no tempo em que não me tinha cruzado com o cruzamento da tua existência em mim.
Há verdadeiramente muito tempo que estes sonhos não surgiam na minha mente. Consigo lembrar-me de cada um deles, porque em cada um existe uma ponte para um outro sonho (meu). Muitos deles foram isso mesmo, somente sonhos. Outros são hoje realidade vivida.
Ficou verde. Avancei. Continuei.
Até que ponto estarei eu presa a algum desses sonhos? Até que ponto não serão apenas sonhos que me fazem sentir tudo isto?
Paro. Espero, novamente, que o sinal verde possa acender.
Sei que não ultrapassei uma das pontes. Sei que fiquei presa num destes sonhos. Sei que se atravessar a ponte nenhum dos outros sonhos não serão, hoje, já uma realidade.
E imaginar-te…
Magoa. Faz chorar e faz gritar, e mesmo assim não passa.
Está verde. Continuo parada.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O (meu) outro lado

Sente o calor do Sol,
recebe-o de frente,
abre a mente.

Segue a vida.
Prossegue o teu instinto,
sê distinto.

Sente o frio da Lua,
evita-o,
inibe-o.

Entre o clarear e o escurecer,
vive o entretanto da vida
sem deixares de crescer.

Porque a vida é só.
A vida só é.

Nascer,
Viver,
Morrer.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A minha Ilha


Sigo em frente. Dou um passo atrás do outro na esperança vã de sentir que pertenço mais a esta cidade. Esperança apenas isso, esperança.
Não reconheço as histórias do passado nem revejo o presente nas pedras que piso. Enquanto avanço não encontro as caras da minha vida, nem os seus abraços, nem os seus beijos. Pelo contrário, encontro outras caras, sem alegria. Olhares frios, sorrisos fechados, vidas pesadas que passam por mim, como se eu andasse contra a maré, como se eu caminhasse para a frente quando todos caminham para trás.
Estar longe da minha Ilha é estar longe de mim. Falta-me a alegria, a cor e a vida. Estar longe de vocês é estar longe de mim. Falta-me a força.
A vida determina os nossos caminhos e as nossas viagens, momentos há em que não a podemos contrariar, apenas podemos segui-la. Foi o que tive que fazer, mas custa.
Da janela do quarto da minha Ilha via o mar, todos os dias, quando acordava e antes de adormecer. E agora? Onde posso encontrar o azul daquele mar que me pertence? O reflexo do pôr-do-sol e o do nascer do sol?
Felizmente, tenho a presença física de algumas das pessoas mais importantes da minha vida que me mostram o mar, o sol e a lua da minha Ilha a cada sorriso, a cada abraço, a cada palavra, a cada gesto, aproximando-me por instante daquilo que eu sou.
A palavra saudade ganha vida, é uma constante neste percurso que será longo e as lágrimas, por vezes, vencem e nasce em mim uma vontade de correr na vossa direção e não mais me afastar.
Tenho muito medo de não conseguir recuperar este tempo que nos roubaram, mas vou continuar a seguir este caminho por entre pedras nuas e frias sentindo-me preenchida e aquecida por tudo aquilo que vivi e por tudo aquilo que luto para viver, com todos vocês.
Entre mais um dia e menos um dia vou continuar, porque tenho vontade de chegar até vocês para chegar até mim.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Liberdade


Solta-me. Deixa-me voltar a voar.
Quero sentir-me livre. Quero voltar a sonhar, sorrir e ser feliz. Sem compromissos, promessas ou juramentos.
Seguir em frente, desenhar um mundo com outro rosto e elementos, apenas os que são verdadeiramente elementares.
Quero mudar e vou mudar. Quero uma nova unidade.
Quero olhar-te e não reconhecer nada do que te dei e do que tu me roubaste. Só o que serei.
Segue o teu caminho porque eu seguirei o meu.
Vejo nesta paragem a personificação de um caminho mais seguro e confiante, porque, por vezes, não basta seguir em frente. É necessário mais do que isso, muito mais do que isso.
Replanificar projectos e ambições, rever o caminho que foi feito e compará-lo com o que será construído.
Eu vou seguir em frente, sim. Eu parei, sim. Eu desisti, não.
Eu aprendi. Eu vou voltar a voar, sonhar, sorrir e ser feliz. Sem receio, incerteza ou preocupação.
Segue o teu caminho oposto ao meu e boa sorte, porque nada do que me roubaste te servirá.
Segue o teu caminho porque eu seguirei o meu.
A cada paragem vivida ganho sonhos, sorrisos e felicidades. Deixo no porto essa prisão que vivi, essa impossibilidade de voar, sonhar, sorrir e ser feliz.
Deixo-te neste porto. E sigo o meu caminho neste mundo que reinventei, recriei e revivi.
Habitar num mundo cheio de sonhos, sorrisos e felicidade só depende de cada um de nós. Habitar num mundo onde só há espaço para quem e para o que tem que ter espaço, só depende de ti.
Hoje, ao contrário de ontem, posso sonhar, sorrir, ser feliz. Hoje, ao contrário de ontem, sigo por um caminho diferente. Hoje, ao contrário de ontem, estou finalmente livre, por isso, voarei.
Adeus.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

O tempo é nosso


Pensamentos descompassados, lágrimas paralelas e sincronizadas.
Passo pelo tempo sem que o sinta, somente sinto o seu peso que recai agora sobre mim. Talvez, por isso, me falte o ar e flua em mim uma vontade louca de correr o mundo num só grito, ou num só gesto. Tudo isto na esperança vã de libertar o que se acumula na minha alma, no meu ser.
Os ponteiros do relógio não me obedecem, seguem o tic-tac. Os dias são curtos, as noites longas.
Já não sei onde te irei procurar. Encontro vestígios da tua presença, mascarados de pistas falaciosas da tua chegada.
Quando partes levas toda a minha força e coragem. Quando partes levas o tempo que avança veloz. Quando partes levas os nossos sorrisos. Quando partes levas os nosso abraços e beijos. Quando partes levas a minha inspiração. Quando partes não levas nada e levas tudo.
Faz da tua chegada a tua permanência, vem escrever a nossa vida, viver a nossa história.
Já fizemos tudo o que podíamos das palavras. Já as escrevemos, falámos, gritámos, segredámos, sonhámos e concretizámos. Agora chegou a hora de inventar novas palavras, dar-lhes voz pelo olhar e escrita pelos lábios.
Tic-tac.
O mundo avança e nós perdemo-nos do que procuramos e lutamos, mergulhados na saudade do que não foi e na convicção do que será.
Não deixes de acreditar nesta história, nem de a querer escrever, vivendo-a.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Carta de amor

Quando o Sol raiou esta manhã, nasceu em mim esta vontade de te oferecer um presente. Um presente feito de palavras, embrulhadas em emoção e sentimento.
Vou pedir-te segredo. Guarda segredo. Vou escrever-te amor. Lê baixinho, lê junto ao mar.
Perdi a minha sombra, conquistei a tua. Adoro vê-la sobre o passeio dos meus passos. Identifico o limite da tua pele nos seus contornos, e encontro-me entre o limiar dos teus braços. É esta sombra que ganha vida e no sopro do vento traz-me o teu toque, dá-me a mão e conduz-me entre os caminhos do meu destino.
Com o chegar do final do dia torna-se cada vez mais difícil encontrar esta sombra que por ser tua é minha, nessa altura, tudo escurece. Chega a noite pura. Escura. Brilhante. Tudo em mim é falta, é saudade, é ansiedade, mas nunca ausência.
Podes estar longe, muito longe, muito, muito, muito longe, mas nunca estarás ausente. Porque a minha existência é igual à tua presença.
Há em ti o significado da eternidade, sabias? Nada será breve nem finito. Tudo será para sempre.
Será sempre a tua sombra que me acompanhará e guiará. A minha? É tua. Sempre será. A minha sombra, assim como, todo o meu ser o é. Este ser que te procurou incessantemente, que te encontrou e que não mais partiu de ti.
Guarda segredo de toda a minha entrega. Sim, guardas? Guarda-me a mim também, porque a minha existência é a tua presença e assim nunca nos perdemos nesta eternidade que és tu e o meu amor e o nosso amor.

Até sempre.Até à eternidade.Até ti.

sábado, 4 de outubro de 2008

Felicidade


Margarida considerava-se uma mulher forte, capaz de travar muitas batalhas e aprender a viver com o sucesso ou o fracasso das mesmas. Efectivamente, havia uma luta que a acompanhava há vários anos e na qual não se declarava vencedora. Margarida não podia ter filhos.Nunca conseguirá apagar da sua memória o dia em que tal coisa lhe foi dita. Dois anos depois, lá estava ela, sentada no mesmo banco de jardim, um dos muitos que circundavam o parque infantil existente perto do bloco de apartamentos onde residia. Talvez por coincidência, talvez não, voltava a sentir necessidade de estar naquele lugar, onde todo o seu ser sentia uma mistura imensa de sentimentos, mas de todos prevaleciam apenas uma tristeza e angústia profundas. Naquele dia, fora o pedido de casamento de João que a conduzirá até lá. Nunca tinha reunido forças suficientes para lhe contar.O João era sem dúvida o homem da sua vida e Margarida sabia que lhe deveria ter dito desde início. Ao contrário do que se passava com a maioria das mulheres, Margarida não tinha adiado o anúncio da sua infertilidade por ter medo de perder o homem que amava, mas, sim, por ter medo que ele lhe olhasse de uma outra forma.Continuaria a orgulhar-se de tê-la como mulher? O pedido de casamento feito naquela manhã manter-se-ia? Conseguiria o João lidar com a pressão familiar?Margarida sabia que não poderia adiar mais aquele momento e, por isso, ligou a João para que não se perdesse no trabalho e viesse assim que possível ter com ela ao seu apartamento.
- Deixaste-me preocupado, querida, o que se passa? – questionou João mal Margarida abrira a porta, virando costas e aproximando-se da janela. Naquele momento, não queria contacto directo com João, queria que ele se sentisse livre para tirar um tempo para percebê-la.
-Senta-te, temos que falar. Há uma coisa que nunca te disse nestes dois anos. Tenho noção que foi uma tremenda cobardia da minha parte, mas, na verdade, acomodei-me à ausência desta verdade entre nós e ao facto de eu própria poder viver como se ela não existisse, e nesse aspecto fui egoísta.
- Margarida, importas-te de ir directa ao assunto? Estou seriamente assustado neste momento. - disse João fazendo Margarida voltar a virar-se na sua direcção. Na posição em que estava, agora, contra a janela fez com que o seu rosto fosse subitamente iluminado deixando João absolutamente compenetrado na sua beleza e com uma grande vontade de a fechar entre os seus braços.
- Tens razão, é melhor ir directa ao assunto…João... eu não posso ter filhos. – disse Margarida de uma forma que não podia ter sido mais seca, deixando João sem qualquer reacção.
No fim dessa mesma noite, Margarida ocupava o lugar onde João tinha estado sentado, chorando compulsivamente sem uma única paragem, ao fim de todas aquelas horas. João tinha tomado uma posição que Margarida nunca tinha temido. Simplesmente achava-a impossível, visto estar segura do amor de João por si. Estava preparada para todas as situações, menos para o fim da relação de ambos, sem uma única hesitação por parte de João. Nem conseguia pensar nas palavras que ele lhe dissera, as mais frias e más que alguma vez ouvira em toda a sua vida.Um mês mais tarde, Margarida tinha reformulado toda a sua vida. João não tinha voltado a procura-la e ,na verdade, depois da discussão de ambos era Margarida quem não queria ficar ao lado de João. «Se não podes ter filhos não faz sentido casarmos nem continuarmos esta relação, nunca teremos nem seremos uma família.». Era com o autor destas palavras que Margarida quase tinha casado, no entanto, não se tinha arrependido da relação que vivera durante os últimos dois anos, tinha-a ensinando a viver com uma realidade, difícil é certo, mas a sua realidade. Margarida aprendera a falar da infertilidade como sempre falara de outras características individuais que a distinguem de todas as outras pessoas no seu conjunto. Continuou a sentar-se no banco do jardim, contudo agora isso devia-se ao desejo de adoptar uma criança ou duas, quem sabe?É nas verdadeiras dificuldades que o amor se revela ou se ausenta. Só o verdadeiro amor vence batalhas e resiste ao tempo. Só o verdadeiro amor une duas pessoas independentemente de tudo e de todos. O amor que unira João e Margarida ausentou-se, não era um verdadeiro amor, só valendo a pena ser vivido para aprender uma lição e Margarida aprendeu-a.Margarida esperava pela disponibilidade dos papéis de adopção de Guilherme e Juliana, desde poucos dias depois da sua separação de João.
Guilherme e Juliana eram dois gémeos falsos, abandonados à porta do orfanato, na véspera da visita de Margarida a essa instituição. Tinha -se apaixonado logo no primeiro olhar, o choro das crianças fê-la debruçar-se no berço de ambos e só várias horas depois, na hora do fecho do orfanato é que Margarida fora obrigada a deixá-los, para na manhã seguinte voltar mal o orfanato abrira. Algumas semanas depois já os tinha em casa.Margarida jamais se sentira tão feliz como o fora a partir do dia da adopção dos seus filhos, só este grau de parentesco faz sentido atribuir perante alguém que tanto ama e quer bem, como Margarida sente e quer por e para aqueles dois bebés. A vida amorosa de Margarida também se restabeleceu ao apaixonar-se pelo pediatra de Guilherme e Juliana, o Dr. Pedro. Margarida tinha por fim encontrado o verdadeiro amor, o vencedor.




Nem todos os finais felizes são constituídos por capítulos vitoriosos, o caminho para a felicidade é longo e, por vezes, duro, mas não impossível de ser percorrido. O segredo? Encontrar o verdadeiro amor, o vitorioso.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Não demores

Nunca te disse mas adoro olhar para ti enquanto dormes. Quando dormes o teu rosto conquista a serenidade plena. Quando dormes o teu corpo apresenta-se deslumbrantemente esculpido. Quando dormes apaixono-me de novo.
Só te peço que não demores a voltar, a espera faz-se longa, a noite faz-se fria e eu faço-me tua. Cada vez mais tua. Tudo o que sou e quero ser a ti pertence.
Fazes-me falta a cada segundo que se acrescenta na minha vida.
Esta noite não vou adormecer, não vou acordar, não vou sentir-me completa. Não demores a voltar. Não demores a adormecer-me. Não demores a preencher-me.

domingo, 28 de setembro de 2008

Não sei bem

Não sei bem. Não tenho a certeza, mas, talvez seja esta a lei da vida. A lei das partidas e dos regressos. A lei das despedidas e dos reencontros. As partidas são escuras e frias. Os regressos demoram a chegar. A saudade é uma constante. Em cada despedida perco um pouco de mim e de vocês. Em cada reencontro recupero-me, recupero-vos.
Há opções na vida de cada um de nós que assumimos como nossas, no entanto, não fomos nós que as escolhemos. Na verdade, não sei bem quem as tomou, se a vida se o destino, mas sei o peso que estas opções tiveram, têm e terão no meu ser, na construção de quem sou e serei.
E os sorrisos perdem-se, e as lágrimas ganham vida, e a vida corre.
Espalho fotografias, momentos, sentimentos. Espalho-vos. Espalho-me. Espalho o meu ser.
Tenho medo, muito medo. Tenho medo de tudo! A cada passo meu, o coração dispara e o receio aumenta.
Quero recuperar o que ficou para trás. Quero a minha paz. Quero a minha serenidade.
Peguem-me na mão. Façam o meu ser parar de tremer.
Segurem-me, porque não sei bem coisa nenhuma, e não sei lidar com isso.


sábado, 20 de setembro de 2008

A cor da vida


Segue a linha, contorna o tracejado. Não o ultrapases. Escolhe a tua cor e pinta a vida. Evita os riscos. Prepara-te para os burrões, mas não desanimes serão inevitáveis. Liberta a criatividade, solta a ambição. Desenha, e aperfeiçoa sempre que possível o traço. Deixa-te aprender e tenta sempre fazer melhor.
Tu serás o autor dos teus quadros, tu serás o único responsável por eles. Pinta o que serás e sentir-te-ás orgulhoso de ti próprio.
Não procures aprovação do mundo para a tua inspiração, apenas vive-a. A vida.
Afinal de contas pintar é fácil e viver a vida, ainda mais. Queres pintar?

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Nunca ninguém nos vai saber explicar o porquê de tudo isto. Sabemos que as estrelas desaparecem, a noite torna-se fria e escura como jamais o fora. Sabemos a dor que nos envolve e a vontade que temos que tudo mude.


Acorda. Saí da morte. Vive, por favor.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Da Vossa eterna menina


Já terminaram tantas fases, mas esta é diferente de todas as outras. Esta nova fase é longe de tudo. Longe de mim e do que reconheço como meu.
Há situações para as quais ninguém nos prepara simplesmente porque não há preparação possível.
Não me sei despedir e tenho medo desta saudade. Não sei começar de novo e tenho medo do desconhecido. Não sei viver longe de vocês e tenho medo de estar longe do vosso amor.
Eu sei que me acham forte e corajosa o que não sabem é que era a vossa presença que me fazia ser assim. Preciso de vocês, preciso tanto de vocês.
Meses, semanas, dias, horas, segundos longe de vocês. Tempo que nunca mais vou recuperar.
O caminho é em frente e eu vou enfrentá-lo, com vocês, com a vossa ajuda e com o vosso apoio.
Vou seguir para longe mas nunca me vou afastar, só têm que me sentir. Quando amamos alguém sabemos senti-la, e por serem as pessoas que mais me amam no mundo sei que o vão saber fazer.
Não chorem nem se preocupem demasiado. Eu vou estar sempre bem. Sempre que pensar em vocês, sempre que falar com vocês, sempre que vos ouvir, sempre que vos sentir, sempre que vocês existirem em mim. Eu vou estar sempre bem com vocês.
Desculpem-me se vos desiludir. Desculpem-me se não estiver à altura.
Amo-vos dessa forma que sentem.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Hoje


Hoje tudo em mim és tu. Hoje tudo em mim chama por ti. Hoje tudo em mim te recorda.
Vem buscar-me e leva-me contigo de volta àquelas noites que passeávamos de mãos dadas até sentir frio e encontrarmos um no outro o calor na medida certa. Trocávamos as mãos dadas por um abraço apertado e um beijo que aquecia o mundo inteiro.
Vem buscar-me e leva-me contigo de volta aos fins de tarde na praia em que tudo era perfeito e só fazia sentido ter o teu corpo junto do meu e o meu junto do teu.
Vem buscar-me e leva-me contigo de volta ao nosso tempo ou salta comigo este tempo que não é nosso.
Hoje tudo em mim é saudade. Hoje tudo em mim é amor. Hoje tudo em mim é falta.
Dá-me esse teu sorriso rasgado que ilumina todo o meu ser. Dá-me esse teu abraço que é segurança. Dá-me a tua mão que é confiança. Dá-me esse teu beijo e tenho tudo.
Hoje tudo em mim é teu. Hoje tudo em mim é por ti. Hoje tudo em mim é para ti.
Tenho saudades tuas, muitas, tantas quanto as que sentes e mais algumas, mas também tenho uma tremenda dificuldade em escrever algo para ti ou sobre ti. Não sei qual a razão mas faltam as palavras, sobram sentimentos. Todos por ti.
O que nos vale é que o meu olhar que tem o teu nome, o teu brilho e a tua personalidade. O que nos vale é que o meu olhar é o teu reflexo, não sendo necessário muito mais para saberes o quanto és especial e tudo o que sinto por ti.
Está quase meu amor, não tarda voltamos a esquecer o mundo.
Até logo.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Baloiçar da vida


Tenho saudades de andar de baloiço. Tenho saudades de estar mais perto do céu. Tenho saudades de voar. Fecho os olhos e ainda me recordo de todos os pormenores. Seguia o balanço e o compasso do vento, soltava gargalhadas, livres e despreocupadas.
Agora esse tempo acabou. Há opções a fazer e decisões a tomar. Há preocupações constantes. É difícil esquecer o mundo e ficar mais perto do céu.
Por vezes, deixamo-nos controlar por todo este reboliço, por toda esta pressão, ficando tão sensíveis que até a queda de um pingo de chuva sobre a nossa pele nos faria chorar e suspeitar que o mundo se uniu para não nos compreender. Já tive dias assim.
São aqueles dias que gostaríamos de saltar, de dormir cedo para que o dia seguinte chegue bem depressa, mas são nestes dias que o sono tarda a vir. A respiração prende, as lágrimas rolam pela face, os pensamentos atormentam-nos e é, então, que chegam as dúvidas. Tudo nos passa a parecer tão frágil, que ganhamos a noção que pode quebrar a qualquer momento. O nosso mundo, o nosso mundo é afinal tão frágil.
Sem saber ando num baloiço, que não sendo de madeira, é a vida. Sigo ao sabor do instinto e do destino e sim, há dias que solto gargalhadas, mas já não são livres e despreocupadas. Mantêm apenas a espontaneidade.
Deixa-te estar aqui, comigo. Fica comigo até o amanhecer, até adormecer.
Dá-me a mão e faz-me sentir que tudo é seguro.

Agarra o baloiço, não quero andar mais.Agarra!

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Bailar de um sonho


Amava a dança. Esta era a única certeza que Lúcia tinha. Sempre seguira o seu sonho e de todas as decisões que já tomara até aquele dia, essa era, sem dúvida, a decisão de que mais se orgulhava. No entanto, o sorriso feliz que oferecia às plateias que a assistiam encobria um outro sorriso. Era um sorriso seco, marcado pela história de uma vida de escolhas e sofrimento. A sua vida.
Lúcia acabava de viver um momento muito importante na sua carreira, talvez o mais importante de todos, tinha realizado um solo num dos mais conceituados teatros da sua época. Só ela sabia o quanto lhe tinha custado alcançar aquele sonho de criança. Nem sabia ao certo quantas vezes o tinha imaginado. O seu maior sonho tinha-se realizado. Tinha atingido a sua independência profissional. Tinha o seu talento reconhecido e aplaudido.
Mal o espectáculo terminou, dirigiu-se ao seu camarim onde foi encontrar o mesmo cenário de sempre. Flores, flores e mais flores, de todas as cores e espécies, acompanhadas por cartões cheios de nada, escritos com caligrafias perfeitamente desenhadas. Lúcia deixou que o seu corpo perdê
-se a força e ao sentar-se ficou posicionada precisamente em frente ao espelho verdadeiramente gigantesco do seu camarim. Há muito tempo que evitava aquela situação, enfrentar-se a si mesma. Ao longo da sua vida teria enfrentado o mundo inteiro se necessário, mas sempre fora incapaz de enfrentar-se a si própria. Ouvir os seus sentimentos. Ao olhar o reflexo do seu próprio olhar, perdeu o escudo que carregava consigo e começou a chorar, tapando a sua face com ambas as mãos. Julgando poder esconder-se de si própria.
Lúcia fugira de casa muito cedo, o seu desejo de dançar profissionalmente afastava-se muito dos bons costumes de dona de casa planeados pelo seu pai, na verdade por qualquer chefe de família daquela época para as suas filhas. A sua mãe sofria por ela, mas nunca ousou opor-se ao marido. No dia em que Lúcia fugiu de casa o seu pai ordenou que nunca mais se pronunciasse o nome da filha em sua casa, muito provavelmente devido à discussão que teria tido com Lúcia na noite que antecedeu a sua fuga e da qual nunca ninguém teve o relato, nem mesmo Adelaide, mãe de Lúcia, que nunca mais fora a mesma desde o desaparecimento da filha.
Lúcia chorava a solidão de todos aqueles anos por oposição à luta do sonho da sua vida, ou pelo menos do sonho que a fazia feliz em criança, com o passar dos anos duvidava se era o seu sonho que a faria continuar, se o seu orgulho e vontade de mostrar ao seu pai que estava enganado ao gritar-lhe que ela não servia para nada. Estas palavras marcaram-lhe para toda a vida, ouvia-as todas as noites no silêncio das pensões velhas e imundas, que só mudavam de localidade, nunca de condições.
Para trás deixou não só a família mas também um grande amor, o seu primeiro amor. E, naquele momento, no frio do seu camarim nada lhe parecia fazer sentido. Só se sentia viva quando dançava. Quando a música terminava tudo o que deixara para trás corroía-a por dentro. Nos últimos tempos sentia uma vontade imensa de voltar a casa, à sua terra, à segurança do seu lar. Sentia-se ainda mais triste pelo facto de ter mandado um convite para a sua estreita para a direcção da sua casa, cuja destinatária era a sua avó paterna. Apenas a correspondência desta não era aberta pelo seu pai, sendo que na carta pedira para que informasse também a sua mãe Adelaide, para que pudessem vir as duas vê-la. Julgara ter a certeza da presença de ambas, mas não as avistou dos bastidores nem houve ninguém que perguntasse por si aos assistentes.
Lúcia limpava as suas lágrimas, sendo invadida por um cansaço extremo que a fez começar a arrumar tudo para que pudesse dirigir-se ao hotel onde estava hospedada, ao longo da sua carreira foi tendo cada vez mais posses financeiras, até que actualmente podia considerar que tinha uma boa poupança.
Ao chegar ao hotel, Lúcia foi informada que estaria alguém à sua espera no quarto. Lúcia sentiu o coração disparar, a possibilidade de rever a sua mãe ou a sua avó deixava-a tão vulnerável e tão feliz. Contudo, ao entrar no quarto foi surpreendida pela presença de um homem de cabelos brancos, sentado numa cadeira de rodas posicionada na direcção oposta à porta, de forma a vislumbrar a linha do horizonte. Lúcia sentiu que o seu corpo tinha a leveza de uma pena, como se pudesse cair a qualquer momento, sem sequer fechar a porta dirigiu-se ao homem que a esperava. Caiu a seus pés, deitou a cabeça no seu colo, agarrou nas suas mãos e desatou a chorar. Libertou as lágrimas que evitou durante todos aqueles anos.
- Filha, minha filha, procurei-te estes anos todos, mas as tuas constantes viagens, de cidade em cidade, devido ao teu sonho, bem sei, tornaram impossível o nosso encontro. O tempo que demorava a descobrir a tua paragem era o mesmo que demoravas a viajar rumo à próxima. – disse o pai de Lúcia com a voz mais serena que ela alguma vez escutara, o que a fez olhar em sua direcção.
- Pai... – começou Lúcia, mas depressa os dedos do seu pai pousaram sobre os seus lábios, impedindo-a de continuar.
- Lúcia, eu estou muito doente, e sei que vou morrer dentro em breve, mas a minha alma não deixa o meu corpo partir, não sem antes te pedir perdão, te pedir todos os perdões do mundo, na certeza que me irás perdoar…mas acima de tudo não sem antes dizer-te que és a melhor bailarina do mundo, minha querida. Hoje, vi a melhor bailarina do mundo. Estou muito orgulhoso, Lúcia. Parabéns. Agora deixa-te ficar aí, volta a descansar a tua cabeça no meu colo, para eu poder partir, minha pequenina. Não pares de sonhar nunca.
Lúcia, obedeceu desejando apenas eternizar aquele momento. De imediato deixou de ouvir a respiração do seu pai, e só conseguiu sussurrar:
- Oh, pai, eu amo-o.
Em sua direcção vieram três sombras que só ao chegarem bem perto de si, reconheceu. A sua mãe, a sua avó e o seu irmão.
Todos reunidos num abraço cuja força só não era mais forte que a luta por um sonho.

sábado, 23 de agosto de 2008

Retratos perdidos


O sol escondia-se cada vez mais e mais, desafiando a lua a ocupar o seu lugar, num céu que se escurecia a cada gole de Gonçalo. Não sabia o que bebia, quando chegara tinha pedido ao empregado que lhe trouxesse a bebia mais forte que ali houvesse.
Continuava a pensar nas palavras de Margarida, ainda sem acreditar no que se tinha passado. Mal ouvira falar em divórcio recusara-se a continuar a discussão, batera com a porta da casa de ambos com violência, sabia-o, mas não se arrependia, só se arrependia da forma irresponsável como conduzira, em seguida, até o café onde conhecera, há anos atrás, a mulher dos seus sonhos, cujo o coração conseguira conquistar e com quem tinha construído uma vida.
A vida de ambos nem sempre fora fácil, na verdade Gonçalo fazia tudo por Margarida, e na altura em que as economias andavam menos bem, teve que arranjar mais ocupações e duplicar as horas extras. Ela não compreendeu. Reclamava a falta de tempo de Gonçalo, reclamava a sua carência e no fundo a sua solidão.
Margarida era professora e depois de ter casado reduziu a sua actividade a algumas horas de explicações, para ter mais tempo livre para o casamento e para as suas responsabilidades de dona de casa, sobre as quais desde muito cedo a sua mãe lhe falara. Margarida vinha de uma família com muitas posses, ao contrário de Gonçalo, pelo que isso teria, também, contribuído para esta sua atitude mimada perante o esforço do seu marido, que queria garantir que Margarida continuasse a não ter que se esforçar muito para ter tudo o que quisesse.
Tinha terminado a bebida que pedira, no entanto, quando o empregado viu que Gonçalo rodava uma aliança nos seus dedos, trouxe mais uma com o mesmo teor alcoólico. Alto. As pedras de gelo estalavam no interior do copo. Seguindo o seu ritmo Gonçalo, soltou uma lágrima e outra. Sabia que Margarida tinha razões para reclamar o tempo que já não disponha para ela, mas daí a falar em divórcio era algo impensável. Para Gonçalo o divórcio era algo que nem fazia sentido falar-se, casara para toda a vida e sentia uma dor inconsolável que lhe dava a sensação de que o seu peito fosse explodir. Como poderia Margarida ter pensado em divórcio? Como poderia ela ter questionado se era para isso conseguir que ele tanto se esforçava? Como?
Gonçalo sentiu uma mão pousar no seu ombro, era inconfundível o cheiro que começava a sentir. Margarida. Sem pensar em mais nada pousou a sua mão sobre aquela mão. Ouvia agora os soluços de Margarida.
- Perdoa-me, meu amor, perdoa-me. – disse Margarida ao mesmo tempo que se sentava, junto de Gonçalo, sem largar a sua mão.
- Não digas mais nada, vamos esquecer tudo isto, querida – Consolou Gonçalo, que não suportava ver a sua mulher chorar.
- Não. Deixa-me terminar. Eu nem tenho palavras para justificar a minha atitude nem as minhas palavras. Perdoa-me, por favor. Recebi um telefonema da minha mãe, que como sempre me fez sentir uma inútil. Pensei o dia inteiro que merecias alguém melhor, alguém por quem tanto te esforças…e pensei que fazer-te odiar-me seria o melhor para ti. Voltei a borrar a roupa toda e a salgar demais o jantar. – Gonçalo não conseguiu suster uma gargalhada que despertou o olhar de todo o bar na direcção da sua mesa.
- Será melhor levarmos alguma coisa, então, a caminho de casa. – disse ternamente, fazendo Margarida corar e sorrir.
- Perdoa-me, és o melhor que alguma vez me aconteceu. És tudo o que tenho.
- Querida, eu não te pedi para seres dona de casa, eu pedi-te em casamento, lembras-te? Eu quero que sejas minha mulher. Eu sei que não te tenho dado o tempo que mereces…mas quando tudo melhorar será mais fácil, agora só te peço um pouco de paciência.
- Eu amo-te Gonçalo. Perdoa-me. - Segredou Margarida, ao abraça-lo.
- Eu também te amo querida. Está tudo bem.
Naquele dia, o Sol esperou para ver o culminar daquele amor, mesmo percebendo que a Lua não abrandava no seu trajecto e sabendo que seria inevitável o encontro de ambos. Deu-se o eclipse lunar. Deu-se um amor para o resto da vida.

Casa de férias


Há casas que têm histórias para contar. Aos olhos de quem passa revestem-se de elementos casuais e banais, contando os seus segredos apenas a quem for capaz de os perceber nos pormenores.
Cada elevação conta vitórias alcançadas. Cada degrau uma luta travada. Cada divisão uma fase da vida, ilustrada por uma palete de cores municiosamente escolhidas. Cada parede uma separação. Cada espelho uma esperança.
Mais do que o reflexo de preferências pessoais, as casas contam histórias. Se forem nossas de origem contarão a nossa, se forem posteriormente adquiridas por nós serão um ponto de encontro da nossa com outras histórias que não nos pertencem mas não deixam de estar presentes.
É por tudo isto que quero que conheças aquela casa, conhecendo a minha história. Será que vais reconhecer a minha voz? As minhas lágrimas e os meus sorrisos?
Tenho esperança que não vejas naquele espaço uma simples casa, mas que reconheças tudo o que há para reconhecer. Gostava muito que sentisses parte do que sinto quando lá estou e que também nesse sentimento tivéssemos a mesma ligação única.
Achas possível?
Vem sentir a minha casa de férias. Vem reconhecer –me.

domingo, 10 de agosto de 2008

Guarda-me


Em cada onda vou reviver tudo o que já vivemos juntos. Vou soltar um sorriso e pensar que sou feliz. Quando me abraçares saberei que fui iludida pelo azul vibrante que quebra naquela praia, naquele pequeno paraíso e serei só nesse momento feliz.
Em cada onda vou entregar o meu corpo para que se molhe, ordenando todos os meus poros a absorver o sal dos beijos que soltamos num ponto qualquer deste oceano que nos separa e que nos une.
Em cada onda vou mergulhar e reconhecer-te no fundo do mar, regressando à superfície mais forte e confiante.
Em cada onda vou revelar-te mais um segredo desta história de amor.
Em cada onda vou recuperar o fôlego que a tua ausência me retira.
Em cada onda vou encontrar a paz que me ofereces.
Em cada onda vou ganhar e perder. Ganhar saudade. Perder dúvidas.
Descansa o búzio. Ouve.
Em cada onda lembra-te de mim, porque cada onda te leva um pouco de mim, um pouco deste amor que faço questão de espalhar pelo mundo, só para te surpreender.
Guarda o búzio. Não me percas.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Mar sem fim- Capítulo IV

      Quando abriu a porta sentiu uma vontade imensa de a voltar a fechar. Era Isabel, que perdida em lágrimas entrava de rompante na casa de Maria, fazendo com que esta permanecesse imóvel junto à porta. Maria tinha medo de a fechar, como se a fechar significasse fechar a entrada de uma outra visão, fechar a entrada ás boas notícias, fechar a entrada ao regresso de Manuel.
      - O António veio chamar-nos, temos que ir fazer o reconhecimento de dois corpos que foram encontrados numa embarcação que deu à costa, mas por estar irreconhecível não sabem se será a dos nossos homens. – disse Isabel com uma velocidade tão acelerada como a que entrou em casa de Maria, como se tivesse medo de não conseguir terminar o seu discurso, ou de ter consciência da situação que relatava.
      Maria sentia a sua cabeça a andar à roda. Não conseguia acreditar em todo o que se estava a passar, desde o seu regresso da Casa da Praia na manhã do dia anterior, que nada lhe parecia ser real. Olhava Isabel com um olhar vago e distante, sabia que ela continuava a falar mas dessa acção só conseguia percepcionar o movimento dos seus lábios como se se movimentassem em câmara lenta, a sua adição estava totalmente focalizada na chuva que começara a cair e cuja intensidade fazia as pedras do chão gritar de dor, assim como, no cantar dos trovões que de acordo com o que Manuel lhe ensinara aproximavam-se vindos do mar. Maria sentiu um arrepio que começara no fim do pescoço e se alastrara por todo o seu corpo e que fez com que regressasse ao presente.
      - Maria! Maria…reage! Diz-me que não são deles os corpos que foram encontrados…por favor, Maria, diz-me…por favor. – Isabel intercalava as palavras que dizia com gemidos de choro.
      - Eu… - Maria não tinha terminado a frase e já Isabel se abraçara a si, fazendo, assim, com que Maria a acompanhasse num pranto de choro, desesperado e agoniado.
       Poucos minutos depois estavam as duas a caminho do porto, debaixo de uma louca tempestade. Pela raridade destes fenómenos naquela província piscatória nenhuma das duas tinha guarda-chuva, mas na verdade este facto não as assustara, estavam imunes a todas as dificuldades. Todo o desespero dos últimos momentos das suas vidas fez com que nenhuma das duas tivesse a real consciência de que poderiam efectivamente confirmar a morte do corpo dos seus maridos. Do corpo, mas não da alma, pois a alma de Pedro e de Manuel, a cada uma das suas mulheres pertencia, pelo menos durante muitos anos seria isso que consolava as mulheres dos pescadores que já teriam perdido a vida. O mar leva os seus homens, a pedido de desejos divinos, mas a alma deles com elas permanecia. Era esta alma que as levariam ao seu marido, num outro mundo que não o terreno, quando pelo mesmo desejo divino lhes fossem tirada a vida.
      - Isabel, espera. Eu não vou, não sou capaz. – disse, Maria, parando numa altura do percurso em que era impossível se abrigarem para conversarem – Prefiro viver eternamente na dúvida do regresso de Manuel, à certeza de o ter perdido, não serei capaz de sobreviver se for o corpo do meu marido que lá estiver, essa dor será maior do que a força que poderei ter para continuar a viver…e criar o nosso filho.
      - Maria , eu também posso encontrar o meu marido, mas tenho uma fé tão grande em mim, que chega pelas duas. Não são eles, não vão ser eles. E quanto a não teres força para continuar, fica feliz pelo Manuel não te ter ouvido dizer isso, queres melhor motivo para viver do que um filho que vocês tanto desejavam? – Isabel encerrava, assim, qualquer possibilidade de não continuarem o percurso em direcção ao porto,mesmo porque Maria sentia-se envergonhada pelas suas próprias palavras, seguindo os passos da sua amiga que pela primeira vez desde o desaparecimento de Manuel e Pedro parecia estar a recuperar a sua lucidez.
      Chegando à Central do porto,foram recebidas por um homem que se apressou a entregar-lhes cobertores, visto estarem mais do que ensopadas, não fosse a paragem súbita de Maria e teriam de certo melhor aspecto.
      - Fomos informadas pelo António que teríamos que fazer …- disse Isabel, continuando a assumir uma racionalidade admirável e louvável.
      - Por favor, por aqui – disse o homem que as recebera.

domingo, 3 de agosto de 2008

Palavras soltas

Está quente lá fora. Hoje, está muito quente lá fora. Mas cá dentro está frio. É um frio que magoa, é o frio da saudade.
Há momentos em que verdadeiramente nada faz sentido. Há momentos em que percebemos a importância de cada uma das peças que completam o puzzle. Há momentos em que preferimos dormir a estar acordados, só para que o tempo passe mais depressa, só para que se desfaça o nó que sentimos no coração.
Não sei se calculas tudo o que sinto por ti, mas sei que o sentes.
Tenho muitas palavras para escrever, mas a saudade prendeu-as.
Abraça-me e devolve as minhas palavras, que por estarem em ti são nossas.
Abraça-me.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Mar sem fim -Capítulo III

       Isabel esquecendo um pouco toda a situação na qual se encontravam, correu em direcção a Maria e deu-lhe um abraço. Maria não pode deixar de sorrir, afinal estava grávida do único homem que amara e que julgava ser, também, o único homem que amaria em toda a sua vida.
       A noite chegou, Maria permanecia em casa de Isabel, era mais fácil suportarem toda a angústia e sofrimento juntas, para além de que seria mais fácil para os homens do porto que vinham trazer notícias. Durante todo o dia foram poucas as palavras trocadas entre ambas, eram desnecessárias. Cada uma com a sua dor, cada uma com as suas preocupações, cada uma com os seus medos, mas com uma vontade maior que o mundo de ver regressar os seus homens sãs e salvos. Seria pedir muito?
       Era perto da meia-noite e as duas mulheres continuavam sem qualquer notícia ou sinal de Manuel e Pedro. Apesar da insistência Maria recusou o convite de Isabel para lá passar a noite, preferindo por sua vez descansar em sua casa.
       Mal abriu a porta reconheceu o cheiro de Manuel e as suas lágrimas voltaram a ganhar vida, vagueava na sua própria casa, apurava todos os sentidos para que sentisse a presença de Manuel em cada passo que dava. Rendida à impotência de trazer de volta o seu marido, deitou o seu corpo na cama, a mesma da qual se tinha levantado temendo o que o dia, que agora terminava, lhe reservava. Questionava-se sobre o paradeiro de Manuel, sobre o seu estado físico e psíquico, sobre os seus pensamentos.
       Manuel era para Maria, simplesmente, a pessoa mais importante do mundo, a pessoa em quem mais confiava e a única capaz de a fazer feliz. Agora que estava grávida, e sentia ser de um rapaz tal como Manuel sempre desejara para o sexo do primeiro filho, não conseguia entender o porquê daquele episódio, ainda para mais Maria era uma cristã muito devota pelo que instintivamente atribuía justificações para todas as tragédias que ocorrem, assim como, para todos os momentos de grande alegria e felicidade. Este momento era uma excepção, não conseguia encontrar qualquer justificação, nem, por ventura, um sinal que a guia-se até ao seu encontro. Embalada pelos seus pensamentos Maria acabara por adormecer.
       Nessa noite sonhou com Manuel e com os jantares surpresa que ele lhe preparava na Casa da Praia. Eram raros os dias que Manuel chegava a casa primeiro que Maria. Quando ela abria a porta de casa já ele estava sentado no sofá à sua espera, era o tempo de Maria tomar um banho e vestir um dos vestidos que sabia que Manuel mais gostava. O verde era sem dúvida o seu preferido, dizia que era o contraste perfeito para o tom moreno da pele de Maria. Seguiam, então, rumo à Casa da Praia onde depois de jantarem algo previamente preparado por Manuel, e que surpreendia sempre Maria, perdiam-se no corpo um do outro. Cada um conhecia o corpo do outro melhor do que o seu próprio corpo.
       Tinha sido numa dessas noites que Manuel pedira Maria em casamento, na verdade todos os momentos importantes na história de amor que protagonizavam tinham sido anunciados e festejados na Casa da Praia, por isso, Maria tinha já planeado ser lá onde daria a conhecer a sua gravidez. Sabia que Manuel ficaria radiante, sempre sonhara ser pai e sabia que via em si a mulher ideal para ser mãe dos seus filhos. O anúncio da gravidez, sobretudo do primeiro filho, é muito esperado por uma mulher, tanto como o dia do pedido de casamento e o próprio dia da cerimónia, mas agora Maria achava que tudo isso era secundário e insignificante, só queria abraçar Manuel.
       Já tinha amanhecido mas o peso da angústia que Maria sentia roubava-lhe as forças para se levantar e encarar um novo dia sem Manuel, no entanto, sabia que tinha que se alimentar não por si mas pelo filho que esperava. Quando finalmente teve coragem para tal, na porta de sua casa fizeram-se suar toques tão fortes que seriam capazes de a deitar abaixo.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Mar sem fim - Capítulo II

Após alguns segundos de espera Maria foi recebida pela irmã de Isabel, pormenor insignificante caso se tratasse de um outro dia, mas naquela manhã nada parecia ocorrer ao acaso, pelo contrário era como se tudo se conjugasse para o anúncio de algo que Maria temia saber. Depressa tentou disfarçar os pensamentos que lhe surgiam a uma velocidade vertiginosa com um simpático cumprimento.
- Entra, Maria, calculo que queiras falar com a Isabel, está no quarto.
Maria esboçou um sorriso forçado e quase que guiada por uma força divina entrou no quarto de Isabel, antecedendo esta entrada com dois toques receosos mas severos na porta entreaberta. Isabel estava sentada no fim da cama de casal, com uma fotografia sua e de Pedro no colo. Sem levantar o olhar, adivinhando a quem pertencia a sombra que caíra no chão, Isabel disse:
- Já fui a tua casa, já fui até à praia mas não te encontrei em parte alguma, a quem perguntei também desconhecia o teu paradeiro.
Maria deixou-se ficar à porta do quarto de Isabel e Pedro quase petrificada. Ouvia a voz de Isabel como se revivesse algum episódio passado, como se adivinhasse as palavras que esta proferia, uma a uma. Sem que Maria conseguisse justificar a sua ausência ou questionar fosse o que fosse, Isabel prosseguiu.
- O António, que trabalha no porto, veio avisar-nos que a estação perdeu o contacto com o barco dos nossos homens…-Isabel parecia não ter forças para continuar – Ele recusou-se a confirmar, mas a rádio já lançou um alerta para que ninguém se aventure no mar, parece que se aproxima uma grande tempestade, como há muito não se vê.
Maria dando passos muito lentos como se calculados, ao chegar perto de Isabel deixou que as suas pernas perdessem a força, ficando igualmente sentada. Cobrindo o rosto com as duas mãos e sem oferecer qualquer resistência deixou que todas as suas lágrimas se libertassem dos pequenos olhos cor de mel que possuía e que desde sempre encantaram Manuel.
- Não pode ser possível, não pode…- Foram as palavras que suaram , vencendo a barreira das mãos de Maria, que devido à pressão que exerciam sobre o seu rosto tinham uma coloração quase avermelhada.
- Tem calma, Maria. Eles devem estar bem, ambas sabemos que praticamente nasceram no mar. Saberão reconhecer os sinais do mar e em breve irão regressar. – Disse Isabel, que apesar do próprio sofrimento sentiu no choro de Maria uma angústia diferente.
Maria levantou-se e dirigiu-se à única janela existente naquele quarto, sem, no entanto, conseguir parar de chorar. Isabel não a seguiu, esperava ouvir algo sem ter que a questionar, como se apenas Maria soubesse qual seria a altura ideal para falar.
- Isabel, eu estou grávida.

domingo, 27 de julho de 2008

Mar sem fim - Capítulo I


      Era a terceira noite sem dormir. Ocupava o seu lugar na cama como se conhecesse de cor os limites que o separam daquele que é ocupado pelo seu homem, pelo seu marido, pelo seu mais que tudo. A sua ausência era necessária partira mar a dentro para trazer aquele que seria o sustento de ambos e em breve, também, do primeiro filho do casal.
      Manuel desconhecia o estado de graça da mulher, na verdade Maria só teria confirmado a boa nova no dia da partida da embarcação do marido. Quem confirmou a gravidez foi a vizinha Emília, trocava a leitura de cartas por bens alimentares que calassem a fome dos seus filhos. Eram doze rebentos de idades e progenitores masculinos variados. A Emília valia a crença da verdade das cartas, cuja leitura era um dom que poucos possuíam mas a que muitos recorriam.
      Maria levantava-se, por fim, vencida pela dor que sentia no peito. Já estava habituada às viagens do marido mas desta vez era diferente, o sexto sentido feminino atormentava-a. Só se acalmaria num sítio que bombeava na sua mente ao ritmo do coração, que na ausência de Manuel insistia em bater a um ritmo mais e mais acelerado.
      Já na velha Casa da Praia, Maria deixou escapar duas lágrimas, mais transparentes que brilhantes. Mal abriu a porta, que com o passar do tempo mais parecia uma simples folha derrubável perante o simples sopro da brisa de Verão, foi invadida por um oceano de recordações. Fechou os olhos e deixou-se embalar.
      Manuel e Maria conheceram-se no Verão quando eram ainda dois jovens. Maria com frescos dezasseis anos e Manuel com prematuros dezoito anos. Até que Manuel conseguisse conquistar Maria muito tempo passou. Apesar da pouca idade Maria já nessa altura não era adepta de contos de fada e conhecia o lado mais escuro da vida. O pai abandonara a sua mãe quando Maria era ainda muito pequena, mas tinha ainda na sua memória as noites que passara em claro ouvindo a sua mãe chorar compulsivamente. Desde logo jurou jamais confiar num homem.
      Por sua vez, Manuel não deixava escapar um bom desafio e estava decidido a transformar todos os medos de Maria em confiança e entrega.O culminar dessa luta teria chegado com a primeira visita à Casa da Praia, onde Maria teria cedido e aceite o pedido de namoro de Manuel.
A Casa da praia fora construída pelo próprio Manuel, que herdara de Francisco, seu pai, a agilidade da construção. Era aí que Manuel se refugiava quando o seu corpo e mente assim o exigiam, ainda hoje quando precisava de tomar grandes decisões ou para acalmar os pensamentos após uma discussão com Maria, era aí que se refugiava. Maria apesar de o saber nunca lá ia senão pela mão de Manuel, pois acreditava que fosse isso que ele esperava dela, o respeito pelo seu próprio espaço. No entanto, hoje, só ali poderia recorrer para sentir mais perto o seu marido e mais longe a saudade e os pressentimentos que a aterrorizavam.
      De regresso a casa Maria não resistira a bater à porta de Isabel, o seu marido Pedro tinha partido com Manuel.

sábado, 5 de julho de 2008

Heróis



O nosso melhor nem sempre é o suficiente. Há metas que simplesmente não conseguimos alcançar. Há momentos em que a palavra “ impossível” ganha volume e área. O mundo grita que não há impossíveis e somos declarados vencidos.
A verdade é que os verdadeiros heróis não cortam metas nem sobem ao pódio. A verdade é que os verdadeiros heróis não seguram taças, nem têm medalhas. A verdade é que os verdadeiros heróis não chegam à meta porque em direcção a ela socorrem alguém, ajudam alguém, dão a mão a alguém.
É mais fácil assumir o mérito de alguém que na verdade não o tem porque isso faz com que o homem se sinta bem consigo próprio, pois nele conseguirá ver o mesmo mérito que glorifica em outrém. Um mérito sem valor, vulgar e comum.
Os verdadeiros heróis não precisam de reconhecimento, precisam apenas da justiça e da verdade. Ser verdadeiro nem sempre é ser justo, mas ser justo será sempre ser verdadeiro.
Os heróis são heróis porque reconhecem a impossibilidade, reconhecem o fracasso, reconhecem a luta, reconhecem o valor do que não é valorizado, reconhecem as pequenas coisas.
Só as grandes pessoas vêem as pequenas coisas.
Não tenho medo de usar a palavra verdade e conheço muitos heróis. De todos os heróis que já passaram na minha vida tirei uma lição, de todos os heróis que tenho na minha vida aprendo mais uma verdade, de todos os heróis que um dia terei na minha vida aprenderei algo que ainda não conheço.
Hoje aprendi que não faz mal cair, não faz mal chorar e podemos assumir que caímos e que choramos com o mesmo orgulho com que dizemos que aguentamos e sorrimos. Porquê? Porque só os heróis caem, choram e continuam a ser heróis.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Devolvam-me

A Terra perdeu o seu movimento orbital. O Sol não irradia. As estrelas não cintilam, estão fixas e estáticas sobre um plano escuro que se confunde com a noite.
Estou longe do que sou e do quero ser. O amanhã é a única certeza da incerteza do presente.
Tenho pensamentos que não me pertencem. Tenho palavras por dizer, saber, perceber, decorar. Tenho provas a dar. Tenho tempo por passar. Tenho o que não me pertence.
Dás-me a tua mão? Preciso que me guies neste percurso que faço de confiança vendada e com medo vigiante.
Perdi o Norte antes de descobrir onde estava o Sul, perdi a orientação da tranquilidade e da sabedoria. Espero agora que a bússola da vida volte a respeitar as leis magnéticas dos meus sonhos. Não irei ceder, antes de tal voltar a acontecer não prossigo.
O meu caminho terei de ser eu a decidir e a traçar, ainda que seja o errado. É o meu. Só eu o poderei orientar. Não quero palpites, nem ideias soltas. É a minha vez. Não quero que tomem conta do que é meu. Não quero nada do que não me pertence, porque hão-de os outros querer o que é meu?
Recuso-me a prosseguir enquanto tudo não voltar a tomar a orientação magnética dos meus sonhos. Devolvam-me a bússola.
Quero espaço e tempo. Preciso de espaço e tempo. Peço espaço e tempo.

sábado, 7 de junho de 2008

Em Lá, entre o Sol e o Si




Pedi às pedras da calçada para que guiassem os meus passos e os meus pensamentos. Uma a uma, de forma gentil e cúmplice, assentiram ao meu pedido. Seguiram as coordenadas da Lua e somaram-lhes as indicações do Sol.
Estive entre o Sol e o Si. Estive em Lá.
Ouvi o silêncio mais profundo do meu ser, ouvi o eco do seu grito. Aprendi o significado de cada imperfeição do meu corpo. Li e reli a sina que trago em cada linha das minhas mãos. Vi cada um dos sorrisos sinceros que dei na vida, vi também as lágrimas sentidas. Passaram por mim todos os momentos da minha história, os bons e os maus, formavam uma roda. Quando tentei fechá-los entre as duas mãos, desfizeram-se como pó. Foi, então, que surgiu uma gargalhada. Foi o tempo, que desfez os momentos e ainda soltou uma risada.
Existem etapas na nossa vida que exigem uma paragem, pois só assim teremos as respostas necessárias para escolher um dos lados do cruzamento. As pedras da calçada, ou a calçada das pedras, não me recordo bem, trouxeram-me de volta até o cruzamento da encruzilhada da minha vida. Agora, já ninguém me pode ajudar. Nada me pode guiar. Agora, sou eu por mim. Agora, sou eu a falar e a escutar. Agora, sou eu para mim. Agora, sou eu comigo. Não sei qual dos lados vou escolher, nem qual deles será o mais correcto. Direita. Esquerda. Em frente. Norte. Sul.
E se seguir o caminho errado? Terei tempo de voltar para trás? E se quando o quiser fazer, o tempo desfizer a estrada e soltar uma gargalhada tal como fez com os meus momentos? Como será?
Tenho medo de falhar comigo mesma, desta vez retirar um ensinamento não será suficiente. O tempo vai soltar uma gargalhada.Tenho medo de falhar com o meu futuro, desiludir-me a mim própria, ao Sol e à Lua.
Os meus cabelos estão a chorar, começou a chover e nem me apercebi. Está na hora, tenho que avançar! Mas para onde?
Vou ter que arriscar, a vida obriga-me, ou será o tempo? Ele quer rir-se de mim.
Vou avançar. Vou lentamente. Passo a passo vou encontrar o meu caminho. Percebi o porquê de me terem guiado até Lá. Assim, pude recordar-me de que as respostas às nossas perguntas estão nas estrelas, nós não as encontramos porque nos esquecemos de erguer a cabeça, vivemos de olhos postos no caminho, no chão da vida.
Agora, vejo! Está tudo nas estrelas.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

A vida é longa, os dias são curtos


É bom retirar de cada dia uma lição, uma experiência, uma conclusão.
Hoje não ganhei nada, hoje perdi o hoje. Sempre que de um dia nada retirarmos significa que perdemos um dia da nossa vida.
Hoje não vi no céu o que queria ver. Hoje o mar não reflectiu nada do que procurava. Hoje não fiz nada certo. Hoje tudo me caiu. Hoje o sol não me sorriu. Hoje a vida não foi cor-de-rosa. Hoje não encontrei quem queria.
Salva-me a recordação dos momentos em que senti que ganhei dias, em que senti que ganhei tempo.
A vida é longa, os dias são curtos. O curto transformou-se em nada, e hoje foi nada.
É noite de Lua cheia.
Esta noite vou apanhar banhos de lua cheia, enriquecer a minha alma, compensar o meu ser. Esta noite vou ganhar dois dias, pelo hoje que perdi.
A vida é longa, os dias são curtos.