sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

(Des)Ilusões

Pensar que toda a minha vida por olhar apenas na direcção em que me desloco, nunca na direcção oposta, perdi pormenores inteiros e paisagens completas.
Dei comigo a redescobrir ruas que achei já conhecer por simplesmente ter-me deslocado a pé, numa direcção oposta à que os carros podem deslocar-se e na qual também eu sigo. Dei comigo a conhecer segmentos de uma cidade que loucamente julgava conhecer.
Quantas mais paisagens, segmentos e reflexos perdi ao longo de todos estes anos? Quantas das ruas da minha infância reconhecerei de perfil e não apenas de frente?
Na verdade, esta nossa forma de ver o mundo decorre em grande parte da própria forma de estarmos na vida. Receio de olhar para trás, ânsia de seguir em frente conhecer o que vem a seguir, o fim. Do livro, do filme, da peça de teatro.
Tu rias-te de toda a minha surpresa e ao mesmo tempo de toda a minha inocência ao perguntar-te se tinham construído um prédio novo, uma nova estátua, aberto uma nova igreja.
Porque o mundo, não é como é, mas é como o vemos. Temos mundos diferentes. Pormenores ausentes. Pormenores presentes. Distintos.
Tu rias-te de toda a fragilidade da minha orientação, confundias-me de novo e ainda te rias mais.
Vivemos nesta inocência do conhecimento exacto e absoluto seja do que for, seja de quem for.
Entre surpresas boas e más seguimos em frente, evitando olhar para trás. Entre dias e noites somos felizes e infelizes. Entre hoje e amanhã esperamos sempre que venha o melhor logo depois do agora.

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