sexta-feira, 27 de março de 2009

Erros frios

É noite e o ar é frio. O arrepio percorre toda a pele desde a base do pescoço até as plantas dos pés, primeiro atrás depois a frente do corpo. É noite e a vista da varanda não é a mesma que de dia.
Na cama, adormecido num sono profundo, estava Ele.
A camisa da noite de seda apurava todos os seus sentidos, naquela noite, em que precisava precisamente que todos os seus sentidos fossem atraídos de tal forma que de cansada também podesse adormecer.
Na cama, adormecido num sonho profundo, estava Ele. Ele. Ele.
Deixara de o conseguir definir desde a última zanga. Deixara de o conseguir definir desde a última quebra de confiança. Ele…
O ar soprou num tom ainda mais frio e voltou a provocar-lhe um arrepio, ao mesmo tempo que do rosto se separavam lágrimas salgadas que lhe molhavam o rosto, e continuavam o seu percurso seguindo a linha do seu pescoço fino, até atingir a seda da sua camisa onde se dispersaram como se tivessem encontrado o que procuravam há muito.
Também ela pensara ter encontrado o que há muito procurava, com o qual até sonhava ainda que não de forma permanente. Mas , desde aquela discussão tudo estava em certezas de pena, incertezas de ferro.
A Lua e o Sol estavam alinhados. Metade por metade. O novo dia estava por nascer, e sem se aperceber tinha estado, todo aquele tempo, estática na varanda da sala, para que Ele não acordasse.
Nesse instante sorriu. E sentiu vontade de voltar a encontrar-se no corpo Dele.
Voltou para a cama, do sono profundo Ele despertou para a realidade do sonho que estava a seu lado, e mesmo sem abrir os olhos como conhecendo de cor todos os contornos do corpo Dela levantou o braço para que Ela se deitasse e voltou a fechá-lo mal a sentiu encostar-se ao seu corpo.
Foi naquele abraço que o ferro transformou todas as incertezas em penas que voaram de tanta leveza. Foi naquele abraço que recuperou forças e percebeu que todos nós erramos, mas esses erros não nos fazem deixar de sermos quem somos. São apenas erros, que quem nos ama tem que saber ou aprender a perdoar.

1 comentário:

C disse...

também quero uma história em que o ferro se desvanece em penas pelo calor dos abraços:)
gostei muito de ler estas silabas de amor que tocam o coração.
um beijinho e um abraço quentinho.