Gostava de ser capaz de ser feliz, sorrir, cantar e saltar com a leveza de alguém para quem a vida basta. Gostava de correr em jardins floridos, mergulhar em águas cristalinas, deitar-me em campos de trigo cor de ouro com a confiança de alguém para quem a certeza do presente basta.
Recordo o tempo em que o céu era o limite e abrir os abraços e levantar a cabeça era o mais próximo que podia estar daquele céu em que as nuvens contavam histórias ao mar. Recordo o tempo em que rodava saias até cair. Recordo o tempo em que o cor-de-rosa e o azul eram fundo de desenhos e pinturas.Recordo o tempo em que coroas de flores ditavam reinados.
Hoje o céu é só mais um dos horizontes e o tempo faz com que não abra os braços e levante a cabeça na ânsia de encontrar aquele céu. Hoje não faço com que as saias rodem até cair. Hoje o cor-de-rosa e o azul são apenas cores do arco-íris ou da velha paleta de cores guardada, mas aqui onde regresso invadem-me vontades perdidas de correr, saltar, rodar, sorrir, mergulhar, agarrar e não mais soltar este momento. Aqui onde tudo é meu, o que foi mistura-se com o que é e encontro-me em tudo quanto existe. Aqui vivo.
Abro janelas porque hoje é dia, corro para os teus braços e volto a fugir, sorriu, riu e sigo porque sei que conheces o meu regresso. Neste tempo suspenso de horas e dias ,tento ser e ter tudo quanto existe e fujo do céu de todos os limites em que se insere o tempo em que o hoje passa a ontem, passado, pretérito imperfeito do pretérito perfeito.