Após alguns segundos de espera Maria foi recebida pela irmã de Isabel, pormenor insignificante caso se tratasse de um outro dia, mas naquela manhã nada parecia ocorrer ao acaso, pelo contrário era como se tudo se conjugasse para o anúncio de algo que Maria temia saber. Depressa tentou disfarçar os pensamentos que lhe surgiam a uma velocidade vertiginosa com um simpático cumprimento.
- Entra, Maria, calculo que queiras falar com a Isabel, está no quarto.
Maria esboçou um sorriso forçado e quase que guiada por uma força divina entrou no quarto de Isabel, antecedendo esta entrada com dois toques receosos mas severos na porta entreaberta. Isabel estava sentada no fim da cama de casal, com uma fotografia sua e de Pedro no colo. Sem levantar o olhar, adivinhando a quem pertencia a sombra que caíra no chão, Isabel disse:
- Já fui a tua casa, já fui até à praia mas não te encontrei em parte alguma, a quem perguntei também desconhecia o teu paradeiro.
Maria deixou-se ficar à porta do quarto de Isabel e Pedro quase petrificada. Ouvia a voz de Isabel como se revivesse algum episódio passado, como se adivinhasse as palavras que esta proferia, uma a uma. Sem que Maria conseguisse justificar a sua ausência ou questionar fosse o que fosse, Isabel prosseguiu.
- O António, que trabalha no porto, veio avisar-nos que a estação perdeu o contacto com o barco dos nossos homens…-Isabel parecia não ter forças para continuar – Ele recusou-se a confirmar, mas a rádio já lançou um alerta para que ninguém se aventure no mar, parece que se aproxima uma grande tempestade, como há muito não se vê.
Maria dando passos muito lentos como se calculados, ao chegar perto de Isabel deixou que as suas pernas perdessem a força, ficando igualmente sentada. Cobrindo o rosto com as duas mãos e sem oferecer qualquer resistência deixou que todas as suas lágrimas se libertassem dos pequenos olhos cor de mel que possuía e que desde sempre encantaram Manuel.
- Não pode ser possível, não pode…- Foram as palavras que suaram , vencendo a barreira das mãos de Maria, que devido à pressão que exerciam sobre o seu rosto tinham uma coloração quase avermelhada.
- Tem calma, Maria. Eles devem estar bem, ambas sabemos que praticamente nasceram no mar. Saberão reconhecer os sinais do mar e em breve irão regressar. – Disse Isabel, que apesar do próprio sofrimento sentiu no choro de Maria uma angústia diferente.
Maria levantou-se e dirigiu-se à única janela existente naquele quarto, sem, no entanto, conseguir parar de chorar. Isabel não a seguiu, esperava ouvir algo sem ter que a questionar, como se apenas Maria soubesse qual seria a altura ideal para falar.
- Isabel, eu estou grávida.
1 comentário:
Gosto muito.Quero mais...
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